Prestes a perder o lugar de primeiro-ministro para António Costa, Passos Coelho ainda teve de passar pela afronta de ser interpelado por um vice-presidente da bancada socialista, que abriu o debate do lado do PS, em vez do secretário-geral ou do presidente do grupo parlamentar.
O jornal Expresso titulou que “Costa foge ao confronto direto com Passos”, mas do lado do PSD o comportamento do futuro primiro-ministro não foi entendido como um fuga e foi mal-recebido. “Este PS não tem mesmo regras. O Pedro Nuno Santos a interrogar o primeiro-ministro? Não podia ser o líder ou o líder parlamentar?”, questiona-se um deputado social-democrata à VISÃO.
No próprio debate, o líder da bancada laranja não deixou passar em claro essa questão: “Repugna-me mesmo, e assumo as palavras, repugna-me que algum dirigente político, ainda por cima com a pretensão de ser primeiro-ministro, mesmo perdendo as eleições, não tenha uma palavra ao país num dia como o de hoje. É um atentado à democracia”.
Carlos Abreu Amorim desafiou Costa a vir ao palanque. “Um grande sinal político é a ausência do debate de António Costa. É uma ausência que é um silêncio ensurdecedor (…) venha ao debate, venha ao jogo democrático”, apelou.
O PS explica que, de acordo com a estratégia definida pelo partido, caberá a António Costa encerrar o debate, amanhã à tarde. Mas onde os socialistas veem o recato e a pose de estadista, a coligação PSD/CDS vê falta de respeito pelas regras da democracia. “Uma coisa [Costa fechar o debate] não impedia a outra [ser ele a interrogar Passos]. Isto foi um desrespeito pelas regras mais básicas dos debates parlamentares”, conclui outro deputado laranja.
Como disse Passos, no seu discurso perante a câmara de deputados: “Não ignoro que o começo desta nova legislatura está marcado por decisões que rompem com algumas convenções (…) e não escondo a apreensão com que olho para as promessas de novas convenções”. Voltou a política?