É um dos históricos do centro-direita. Foi deputado logo em 1976 e em várias legislaturas, secretário de Estado nos governos da AD e líder do CDS entre 2005 e 2007. Num longo artigo escrito para a obra Seis Testemunhos – 40 anos, editada pelo CDS há pouco mais de um mês, José Ribeiro Castro dedica um capítulo ao relacionamento entre os partidos do chamado “arco da governação”. Nele considera “nada recomendável” uma experiência de “coligação alargada” entre PSD, PS e CDS. “Não é só por contrariar e anular aquela vocação de partido-alternativa tão essencial ao espírito do CDS», escreve, “mas também pelo que, com toda a probabilidade, acrescentaria de muito negativo à acentuada degradação do sistema político”.
Na obra comemorativa dos 40 anos do partido, na qual escrevem ex-presidentes do CDS, o antigo líder é particularmente crítico com o “centrão”. Considera-o “um desastre para a democracia”. Segundo José Ribeiro e Castro, “foi a sede de muitos cozinhados; foi o salão de muito amiguismo e compadrio; foi a fonte de expropriação do debate democrático europeu; e foi o pântano de muita corrupção”, assinala. E dá como exemplo o caso BPN que, segundo diz, “não teria existido sem o ‘centrão’. E outros escândalos que vamos sabendo também não”, assinala.
Para José Ribeiro e Castro, porém, o mais grave seria ver o CDS colado a este “centrão” mais alargado. “Afigura-se uma perspetiva de susto”, escreveu, justificando: “Seria certamente afirmado como uma solução de ‘salvação nacional’, mas, com toda a probabilidade”, argumenta, “não passaria de um caldeirão de interesses”. Ou seja, “seria mais um escudo blindado das redes clientelares, frustraria qualquer ímpeto reformista – e poderia, nessa medida, constituir o último epitáfio do regime, ou melhor, do sistema”, conclui.
Solução à esquerda “é democrática”
Confrontado pela VISÃO com o teor destes escritos e os mais recentes desenvolvimentos no quadro político pós-legislativas, o antigo líder centrista garante: “Não mudei de opinião”. E explica: “Em termos de raciocínio estratégico, é o que penso. Se me perguntar se essa poderia ser apenas uma solução de recurso ou de contingência em face do que aconteceu nas eleições, admito. Mas esse poder serviria para fazer o quê?», questiona. “Seria sempre algo pouco claro, menos nítido, mais nebuloso”.
O histórico do CDS considera que tudo correu mal desde o início. Por um lado, a coligação «geriu isto em piloto automático, fechando a porta a outro tipo de abertura” e “o Presidente da República precipitou-se, não foi discreto como deveria ter sido”, assume. No seu entender, Cavaco deveria ter chamado os líderes do PSD, do CDS e do PS, sem grande alarido, e tentar um entendimento ou clarificação. “Admito que ele tenha estudado todos os cenários, como disse, mas a verdade é que tirou as conclusões erradas”, resume à VISÃO.
Quanto à eventualidade da designação de um governo de esquerda, José Ribeiro e Castro recusa contribuir para alguma dramatização que tem sido feita à direita. “Podemos não gostar da opção e é claro que eu não gosto. Mas é uma solução democrática, faz parte das regras. Alguns é que se calhar deram como adquirido que continuaria a existir um cordão sanitário entre o PS e a esquerda, mas ele foi quebrado”, resume. Para o ex-líder do CDS, o pior seria, agora, nomear um governo de gestão. “Isso sim, seria antidemocrático e poria Portugal a ridículo nas instâncias internacionais”, conclui.