Seguindo um guião já tantas vezes repetido nos EUA, um jovem pegou numa espingarda e apontou a mira para um alvo no meio da multidão. Thomas Matthew Crooks sabia exatamente o poder destruidor da semiautomática AR-15, que, nas várias versões, tem sido usada pelos militares norte-americanos desde a Guerra do Vietname, mas também, em mãos semelhantes às suas, em vários massacres contra civis, em locais hoje tristemente famosos, como a escola primária Sandy Hook, no Connecticut, o cinema de Aurora, no Colorado, ou uma discoteca gay em Orlando, na Flórida, em que, no total, morreu quase uma centena de pessoas. Armado com os 50 cartuchos de munições, comprados naquela manhã, e depois de ter conduzido durante cerca de 70 quilómetros, desde a sua casa em Bethel Park até um descampado em Butler, na Pensilvânia, o jovem de 20 anos posicionou-se num telhado para tentar, porventura, repetir os movimentos que aprendeu, nas semanas anteriores, no clube de tiro Clairton Sportsmen’s Club, de que se tinha feito sócio há um ano. No palco em frente, a cerca de 130 metros de distância, o ex-Presidente Donald Trump tinha começado a discursar para os apoiantes. Como de costume, proferia um violento ataque contra o homem que lhe sucedeu na Casa Branca. “Vamos derrotar o corrupto Biden”, gritou, perante os aplausos da multidão. Poucos segundos depois, Thomas Matthew Crooks premiu, por repetidas vezes, o gatilho. As balas voaram a uma velocidade três vezes superior à do som, o que faz com que um único projétil gere uma onda de choque tão intensa que pode fazer explodir um crânio. No entanto, a bala só atingiu Trump de raspão, na orelha direita. Um desvio de não mais de dois centímetros foi suficiente para evitar, no imediato, um período de convulsões, que poderia aproximar os EUA de uma guerra civil, mas, mesmo assim, esta é uma pequena diferença que pode ter uma relevância maior na História do país, nas próximas eleições de 5 de novembro.
Nos dias imediatamente a seguir ao atentado de sábado, 13, as motivações do jovem atirador, imediatamente abatido pelos snipers das forças especiais de segurança, continuam desconhecidas. E assim vão permanecer, provavelmente ajudando a alimentar as mais variadas teorias da conspiração, tanto à esquerda como à direita. Um caso muito semelhante, aliás, ao que sucedeu em relação a Lee Harvey Oswald, o alegado autor dos disparos que, às 12h30 do dia 22 de novembro de 1963, em Dallas, vitimaram o então Presidente John F. Kennedy. Agora, quase 60 anos depois, ainda se esgrimem as mais diversas teorias e conjeturas sobre o que aconteceu na capital do Texas, sobre quais foram os verdadeiros mandantes e, além do mais, como seria possível um único atirador ter conseguido tantos tiros certeiros contra o ocupante principal do descapotável presidencial.