Duas vezes por década, há uma coreografia que se repete em Pequim e que anuncia a política oficial chinesa dos cinco anos seguintes. É o momento em que, após a primeira reunião do comité central depois do encerramento de um congresso do Partido Comunista Chinês, o novo líder entra num dos salões do imponente Palácio do Povo, seguido pelos outros seis elementos que, a partir dessa altura, integram o Comité Permanente do Politburo – os homens que, verdadeiramente, mandam no país mais populoso do mundo. A ordem em que cada um deles surge representa o seu lugar hierárquico e até as funções que poderá vir a ocupar no novo governo, que será formado alguns meses depois. Durante décadas, os observadores esperavam por esse momento para tentar adivinhar o equilíbrio de poder existente no topo da estrutura, mas também quem poderia perfilar-se como futuro sucessor do líder e quais as áreas de governação que iriam adquirir maior importância. Essa era, inaugurada pelo histórico Deng Xiaoping, terminou no último domingo, 23, de uma forma esclarecedora: Xi Jinping não só foi entronizado para um terceiro mandato como líder supremo – algo inédito nos últimos 40 anos – como ainda o seu poder absoluto ficou garantido com a constituição de uma equipa que ele escolheu apenas entre amigos, fiéis e aliados.
Os sinais foram de tal modo fortes que não deixam margem para equívocos. A cúpula do PC Chinês está completamente alinhada com Xi Jinping. E este até chamou para número 2, e provável futuro primeiro-ministro, o polémico Li Qiang, secretário do partido em Xangai, muito criticado pela forma como encerrou a capital económica da China durante a pandemia, para obedecer à política de Covid-zero imposta por Pequim.