A China insiste numa política rigorosa de ‘zero casos’, mas está a passar por uma nova onda de surtos da covid-19, atribuídos à variante Ómicron. Por isso, enquanto por cá já é cada vez menos comum encontrar desinfetante nos locais públicos, o país continua a pulverização de desinfetante nas ruas, nas fachadas dos prédios, nos bancos dos parques e até nas encomendas que chegam.
Ora com a Ciência a garantir que a transmissão do vírus da Covid através de superfícies contaminadas é baixa, Nicholas Thomas, professor associado da Universidade da Cidade de Hong Kong acredita que o que está a aqui em causa é uma operação “para inglês ver”. “Os robôs e a pulverização nas ruas são atos performativos projetados para reforçar a confiança do público nas ações do governo”, diz, à CNN.
O “espetáculo”, em Xangai, epicentro do maior surto na China, inclui trabalhadores vestidos com fatos Hazmat a pulverizar com máquinas todas as áreas exteriores, com foco nos locais onde se sabe que houve doentes. A obcessão com a desinfeção fez com que bombeiros e elementos das equipas de salvamento fossem desviados do seu trabalho normal para fazer partes destes “esquadrões”.
Segundo os media locais, alguns bairros de Xangai têm mesmo as suas próprias estações de produção dos químicos usados na desinfeção e equipam veículos com tanques e “canhões” para disparar os produtos para as ruas.

Os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA, no ano passado, comprovaram que uma superfície contaminada com o coronavírus tem menos de 1 em 10 mil probabilidades de causar uma infeção, o que levou a um progressivo descartar da desinfeção como uma medida de prevenção da doença. Exemplo disso são os países ocidentais: já não o fazem “porque as autoridades de saúde pública seguiram a ciência”, segundo Emanuel Goldman, professor de microbiologia da Rutgers-New Jersey Medical School.
Embora a Organização Mundial da Saúde apoie a desinfeção, como limpar áreas como maçanetas em locais públicos movimentados, as diretrizes dizem que “pulverizar desinfetantes, mesmo ao ar livre, pode ser nocivo para a saúde das pessoas e causar irritação ou danos nos olhos, no aparelho respiratório ou na pele”.
Um estudo publicado na Revista Science concluiu que o uso excessivo de desinfetantes de cloro corre o risco de poluir a água e até colocar em risco os ecossistemas de lagos e rios próximos. Assim, além de se provar pouco útil, a desinfeção pode até ser prejudicial aos habitantes das cidades.