Cientistas na universidade de Cambridge, em Inglaterra, conseguiram rejuvenescer células de pele de uma mulher, utilizando um método semelhante àquele empregue nos anos 90 para clonar a ovelha Dolly. Após serem sujeitas ao tratamento, as células da mulher de 53 anos agiram como as de uma pessoa 30 anos mais nova.
A técnica utilizada baseia-se nas experiências do Roslin Institute, da Universidade de Edimburgo, na Escócia, que, nos anos 90, desenvolveu um método para transformar a célula somática de uma ovelha num embrião, possibilitando a criação da ovelha clonada Dolly. O objetivo era fabricar células estaminais, um tipo de células que muitos apontam poder elencar um enorme papel no futuro da medicina, devido às suas propriedades de autorenovação e capacidade de diferenciação. Segundo uma publicação da Universidade de Coimbra, as células estaminais podem “produzir células para substituir outras que tenham sido destruídas por diferentes patologias”.
Alguns anos depois, a técnica foi aperfeiçoada e agilizada na universidade de Quioto, no Japão, que consistia em submeter as células adultas a um banho com produtos químicos durante 50 dias, chamado pela sigla inglesa IPS. Ao fim desse período de tempo, a composição genética das células modifica-se, transformando-se em células estaminais. Os investigadores de Cambridge usaram uma variação deste processo, submetendo as células de pele a um banho químico de 12 dias, em vez de 50. O resultado foi inesperado: não se tornaram células estaminais, mas aparentavam-se às de uma pessoa com 23 anos.
“Lembro-me do dia em que observei os resultados e não acreditei que algumas das células fossem 30 anos mais novas do que era suposto. Foi um dia muito emocionante!”, disse Dilgeet Gill, um dos investigadores.
Wolf Reik, o investigador principal do estudo, explicou que a aplicação mais direta desta potencial terapêutica passa por desenvolver medicamentos que acelerem o processo de recuperação da pele queimada ou ferida, especialmente nos casos de pessoas mais velhas. Os cientistas simularam exatamente esta possibilidade e mostraram que as células rejuvenescidas conseguiam sarar lesões mais rapidamente.
Também é teoricamente possível estender o método para renovar outros tecidos no corpo, nomeadamente as células dos músculos, fígado ou sangue, sugerem os investigadores. Contudo, a transformação de células usando o IPS aumenta o risco de cancro, devido aos químicos utilizados no processo, não sendo possível ainda passar da teoria à prática no foro clínico. Nesse sentido, Reik admitiu que a sua equipa está a tentar encontrar uma técnica que seja menos prejudicial para a saúde humana. No entanto, garantiu que o potencial é inquestionável. “A técnica foi aplicada a ratos geneticamente modificados e há alguns sinais de rejuvenescimento. Outro estudo mostrou sinais de um pâncreas rejuvenescido, o que é interessante pelo seu potencial para combater a diabetes”.
O estudo de Cambridge, publicado na eLife, uma publicação dedicada à investigação científica, nota também que o seu método resulta em genes relacionados com doenças que encontram a sua origem no processo de envelhecimento, como o Alzheimer ou as cataratas. “O objetivo a longo prazo é alargar o tempo de vida saudável, em vez do tempo de vida só por si, para que as pessoas possam envelhecer de uma forma mais saudável”, referiu Reik. “Temos sonhado com isto. Muitas doenças comuns pioram com a idade e pensar em ajudar as pessoas desta forma é muito entusiasmante”, acrescentou.
Duas cientistas portuguesas participaram no estudo: Fátima Santos, do Babraham Institute, em Cambridge, e Inês Milagre, do Instituto Gulbenkian da Ciência.