Nos arredores de Londres, onde hoje se ergue o famoso estádio de Wembley, descansa o sonho do magnata inglês Sir Edward Watkin de erguer uma torre que conseguisse ultrapassar a Torre Eiffel de Paris, tornando-se o maior monumento de Londres. Redescobertas em 2002, as bases daquela que é hoje conhecida como a torre de Watkin são a única lembrança desse sonho que nunca deixou de o ser.
Na época de 1880, Wembley era uma zona pantanosa rural a noroeste do centro de Londres, ainda longe de ser um local marcante da cidade. O interesse pela região era reduzido, mas Sir Edward Watkin tinha uma visão tanto para a cidade londrina, como para o seu negócio.
Presidente da Metropolitan Railway Company e considerado um magnata ferroviário, Watkin ocupou-se de estender a ferrovia até ao local onde hoje se encontra o estádio de Wembley. O seu objetivo era facilitar os acessos ao seu mais recente investimento, um parque dedicado ao lazer dos londrinos que incluía um lago, cascatas e vários campos desportivos. Inaugurado em 1894, o parque rapidamente se tornou popular, como ainda hoje é, e recebeu cerca de 100 mil visitantes apenas nos primeiros meses.
Mas o sonho não ficou por aí. “Watkin era um empresário nato e adorava grandes ideias – quanto maiores, melhor”, explica Christopher Costelloe, especialista em arquitetura vitoriana e inspetor de edifícios históricos da organização governamental Historic England. Assim nasceu a ideia de uma torre que seria o principal ponto de atração de Wembley e mesmo de Londres, uma estratégia que atrairia multidões.
Em 1889, foi inaugurada a Torre Eiffel e o seu sucesso imediato, com os custos da construção a serem recuperados passados apenas sete meses, inspirou o magnata inglês. O fenómeno do monumento francês deu, assim, azo às primeiras ideias para o projeto de Watkin, cujo o objetivo era o de conduzir multidões para o parque que construíra e levá-las a usar a sua linha férrea para o fazer. Uma estratégia de negócio que se aliava à sua vontade de deixar um legado grandioso.
Um sonho a ganhar forma
Watkin tinha já o sonho e a vontade, bastava apenas materializar a ideia. Começou por procurar um arquiteto que desse forma ao edifício. Inicialmente tentou contactar o próprio Gustave Eiffel, autor da Torre Eiffel, mas a sua oferta foi recusada por este recear ir contra os interesses da sua pátria. Em alternativa, foi aberto um concurso com um prémio que ultrapassava os 70 mil euros para o vencedor.
Watkin recebeu 68 inscrições com propostas muito variadas. Um dos projetos sugeria uma torre com mais de 600 metros de altura que integrava uma linha de comboio que rodeava o edifício e ia subindo em direção ao topo. Uma outra proposta apresentava um edifício com uma pirâmide no topo e cuja estrutura incluía vários serviços como jardins, museus e galerias.
O projeto vencedor, apresentado pelos arquitetos londrinos Stewart, McLaren e Dunn, exibia uma estética semelhante à da Torre Eiffel, mas seria cerca de 50 metros superior ao monumento parisiense, tornando-se, assim, o edifício mais alto do mundo na época.
“A proposta vencedora foi uma versão mais esbelta da Torre Eiffel. Muito semelhante ao seu perfil geral, mas a estrutura era um pouco mais fina”, segundo Costelloe. Um catálogo publicado em 1890 apresentava a proposta ao público e descrevia a torre como “muito espaçosa”, com “restaurantes, teatros, lojas, banhos turcos, passeios, jardins de inverno e uma variedade de outras diversões”, acessíveis através da recente invenção do elevador elétrico, e ainda uma plataforma elevada que permitiria uma vista panorâmica das redondezas, assim como observações astronómicas possíveis dada a “pureza do ar” encontrada nessa “altura imensa”.
Os obstáculos
A torre propunha-se a ter, inicialmente, cerca de 366 metros de altura, com uma base de oito pernas a sustentar a estrutura. Apesar da grandiosidade ter sido um dos principais requisitos para o projeto, rapidamente a base foi reduzida de oito pernas para apenas quatro, como a própria Torre Eiffel apresenta, numa tentativa de restringir os custos.
“Acho que ele tinha uma tendência em ficar tão empolgado com as suas ideias que muitas vezes seguia em frente antes de pensar se seriam práticas ou financeiramente viáveis”, comentou Costelloe, numa referência a Edward Watkin.
Três anos depois do início das construções, em 1895, deu-se por concluída a primeira fase do projeto e do chão erguia-se uma plataforma de quase 50 metros em direção ao céu. No entanto, o projeto começou a criar problemas logo na sua primeira fase, ligados, principalmente, à sua estabilidade.
A plataforma começou a apresentar uma inclinação que sugeria que parte da estrutura estaria a ceder ao solo tipicamente pantanoso de Wembley. As notícias não anulariam o seu uso, “mas certamente perceberam que teriam grandes problemas se continuassem a construí-lo mais alto, aumentando a tensão nas pernas”, explica o especialista em arquitetura.
Além disso, e contrariamente à sua concorrente parisiense, a torre em construção não se encontrava no centro da cidade e “as pessoas chegavam lá e descobriam que não havia muito para ver, certamente nenhuma vista panorâmica de Londres”, acrescentou.
Watkin não desistiu e instalou elevadores na plataforma para que as pessoas tivessem a oportunidade de subir e desfrutar da vista, mas a adesão foi reduzida, com apenas aproximadamente 18 mil pessoas a pagar para o fazer nos primeiros seis meses.
Sir Edward Watkin morreu em 1901 com a torre inacabada. “Ele foi a força motriz por detrás do projeto e com a sua morte tudo o que restou foi um cálculo racional de custos e benefícios. As pessoas podiam subir à plataforma, mas não era suficientemente alta para obter o tipo de visão panorâmica que alguém teria a partir do topo da Torre Eiffel, e a área em redor não era particularmente desenvolvida ou espetacular”, explicou Costelloe, acrescentando que “simplesmente não havia visitantes suficientes que sustentassem o seu término”.
Um ano depois da sua morte, a torre sonhada por Watkin foi declarada insegura e, consequentemente, encerrada ao público. No entanto, e ainda que a torre não tivesse tido o sucesso idealizado, Wembley continuou a crescer e o parque construído por Watkin na região ganhou popularidade, tendo, inclusive, sido o local de seleção para vários eventos desportivos. Posteriormente, a região foi a escolhida para a construção de um estádio, inaugurado em 1923.
Em 2002, esse estádio viria a ser demolido para dar lugar ao atual estádio de Wembley, o que viria a permitir que se reencontrassem as fundações da torre de Watkin, uma lembrança do antigo sonho do magnata, esquecido sob décadas de história.
Atualmente, e caso tivesse sido terminada, a torre ainda seria a mais alta estrutura de Londres.