No mês passado, foi anunciado que alguns influencers vão passar a poder fazer parte do National Board of the Screen Actors Guild-American Federal of Television and Radio Artists (SAG-AFTRA), um dos maiores sindicatos dos EUA, que representa mais de 150 mil artistas, jornalistas e outros profissionais de media.
“O conselho aprovou um acordo para cobrir conteúdo criado por certos tipos de influencers quando eles são pagos para anunciar produtos ou serviços”, escreveu a própria organização, num comunicado oficial, referindo que “facilitar a cobertura deste tipo de trabalho tem sido uma das principais prioridades” e que é “imperativo” que se abracem e levantem estes artistas, conforme vão surgindo novas formas de contar histórias.
Este anúncio significa que criadores independentes que produzam vídeos patrocinados ou que fazem trabalhos de voice over em plataformas como o Instagram, o TikTok, o YouTube e o Snapchat podem ser membros deste sindicato e ficam, assim, abrangidos por benefícios de saúde e reforma, por exemplo.
“Se você trabalha, merece ter proteções”, disse à Teen Vogue a presidente da SAG-AFTRA, Gabrielle Carteris. Não há, por isso, um número mínimo de seguidores exigido aos influencers e criadores de conteúdo nas suas plataformas, apenas requisitos de trabalho, ou seja, não importa se os influencers utilizam o dinheiro que recebem com o conteúdo patrocinado como um complemento ou se a realização desse conteúdo é a sua única fonte de rendimento. Trabalho é trabalho, e é um trabalho como outro qualquer, assim defende a organização.
Ainda assim, continua a não haver um pagamento mínimo obrigatório, ou seja, as taxas são negociadas de forma independente entre o influencer e o anunciante, mas o sindicato oferece aos seus membros representantes sindicais que podem advogar em seu nome.
Diretos de imagem assegurados
Com a atividade dos movimentos sindicais a aumentar cada vez mais nos EUA, também os criadores de conteúdo independentes começaram a unir-se para pedirem proteções e apoios sindicais. Durante três anos, a organização pesquisou informações sobre influencers e criadores independentes e conversou com vários deles, assim como com agentes e agências e com os membros atuais do sindicato, para se definir com precisão as regras do acordo.
O sindicato vai passar a assumir uma questão que, segundo Carteris, preocupava os influencers nas conversas que foram tendo: os direitos de imagem. A presidente diz que, principalmente porque este tipo de criadores de conteúdo é, maioritariamente, mais jovem, assina, muitas vezes, contratos sem saber totalmente o que está a ser acordado e, por isso, é importante protegê-los a esse nível.
“A maior coisa que ouvi dos influencers foi a palavra exploração”, conta, referindo ser “realmente frustrante” para eles perceberem que deixam de ter controlo, principalmente quando crescem muito rápido. “À medida que começaram a trabalhar cada vez mais, perceberam que estavam a ser explorados e que as suas imagens não eram mesmo suas. O que eles tinham acordado fazer, de repente, já estava a ser utilizado de outras maneiras, e eles não tinham como impedir”, continua.
Mas existem outros problemas: em julho do ano passado – após a morte de George Floyd e a tentativa de as marcas aproveitarem a imagem dos influencers negros para crescerem – vários criadores de conteúdo divulgaram as discrepâncias de pagamento de conteúdo patrocinado que existem, na tentativa de aumentar a transparência, mas essa tarefa tem-se revelado hercúlea.
Regular este mercado de forma eficaz é, portanto, um objetivo importante e necessário para o sindicato. A presidente diz que, ao tornarem-se membros dele, os criadores de conteúdo independentes podem e devem estar à vontade para questionar, comparar oportunidades e receber conselhos.
“Vemos isto como um trabalho emergente”, afirma, referindo que o sindicado quer garantir que os influencers e criadores independentes “tenham a proteção de que precisam e possam trabalhar com a dignidade que merecem”. “E que eles não ganhem apenas a vida, mas que, novamente, as suas imagens sejam protegidas”, diz.