Em 2018, Donald Trump deu luz verde à investigação do juiz norte-americano Brett Kavanaugh, na altura candidato ao Supremo Tribunal dos Estados Unidos, pelo FBI, por suspeitas de assédio sexual e violação nos anos 1980. O então presidente autorizou o inquérito, cedendo a um pedido do senador republicano Jeff Flake.
Essa decisão contrariou as declarações que Trump tinha feito dez dias antes, quando defendeu que o FBI não devia intervir nesse caso, referindo que a audição pelo Senado de Kavanaugh e de uma das suas acusadoras, a professora universitária Christine Blasey Ford, seria suficiente. O presidente norte-americano afirmou, ainda, prestar “total apoio” a Kavanaugh, um “homem extraordinário”, nas suas palavras.
Agora, avança o The Guardian, o FBI está a ser acusado de ter encoberto o juíz durante a investigação de verificação de antecedentes, antes da sua confirmação no Senado. De acordo com Sheldon Whitehouse, advogado e senador democrata, esta investigação que pode ter sido “politicamente restrita e talvez falsa”.
Whitehouse, que atua no Comité Judicial do Senado, já fez um pedido formal a Merrick Garland, Procurador-Geral dos Estados Unidos, para que o Senado realize uma investigação mais profunda e se esclareça se o FBI investigou “realmente e a fundo” as acusações de que Kavanaugh foi alvo, em 2018. Numa carta escrita na última semana, Whitehouse fala da falta de informações e explicações aos senadores acerca da investigação e escreve que várias testemunhas, que pretendiam prestar o seu depoimento, nunca tiveram essa oportunidade, porque o FBI não designou ninguém para aceitar os depoimentos e reunir provas.
“Foi um comportamento único em toda a minha experiência, porque a agência é, geralmente, recetiva a novas informações e evidências”, escreve Whitehouse, criticando, também, Chris Wray, Diretor do FBI, que Joe Biden decidiu que permaneceria no cargo, por se recusar a responder a perguntas sobre a investigação.
Depois das acusações de Christine Blasey Ford e de outras três mulheres, o FBI conduziu a investigação e Kavanough referiu, logo na altura, querer colaborar com o FBI. “Durante todo este processo, fui entrevistado pelo FBI, falei com o Senado e respondi às questões que me foram colocadas. Fiz tudo o que me pediram e vou continuar a cooperar“, afirmou, num comunicado publicado pela Casa Branca.
O FBI apresentou, na altura, um relatório de 100 páginas que se revelou “inconclusivo”. Depois disso, foi acusado por alguns senadores democratas de ter realizado “uma investigação incompleta” e muito limitada no tempo, sem que Ford e Kavanaugh tivessem sido sequer ouvidos.
Não se sabe se pode vir a ser aberta uma nova investigação a Kavanaugh, que é agora um dos nove juízes do Supremo Tribunal dos Estados Unidos, mas a carta pode pressionar o Departamento de Justiça dos Estados Unidos a responder a questões relacionadas com ela. “Não pode ser política do FBI não acompanhar alegações graves de má conduta durante investigações de verificação de antecedentes”, conclui Whitehouse, na carta.