Lembra-se de Viktor Navorski? Ou melhor, lembra-se de Tom Hanks a interpretar o papel do habitante de um país do leste Europeu que, subitamente, se vê “preso” no aeroporto de Nova Iorque no filme Terminal de Aeroporto?
No caso de Hanks, ou Navorski, o problema foi um golpe de Estado na sua Krakozhia que o deixou num limbo diplomático. Não podia entrar nos EUA, porque estes não reconheciam o novo regime, e não podia regressar à sua terra porque as fronteiras estavam encerradas. O aeroporto JFK foi, durante meses, a sua casa.
A família angolana Lulendo está a viver uma situação semelhante. Nkuka Lulendo, a mulher e os quatro filhos, todos com menos de 10 anos, estão na chamada “zona de trânsito” do aeroporto Incheon, em Seul, capital da Coreia do Sul, desde 28 de dezembro. E podem lá ficar até maio.
Os seis chegaram ao país com vistos de turista e assim que aterraram pediram o estatuto de refugiados, mas o ministro da Justiça negou tal requerimento dizendo que não havia nenhuma razão “clara” para esse efeito.
Segundo relatos da imprensa local, os Lulendo têm dificuldade em comer três vezes por dia, lavam-se nas casas de banho do aeroporto e dormem na mesma zona.
As associações de direitos humanos condenam a situação e chamam a atenção para a lei que protege os refugiados: todos os requerentes de asilo podem pedir o estatuto de refugiado à entrada de um país e o departamento de imigração tem até sete dias para decidir se permite que estes entrem no país para continuar o processo.
Os Lulendo contestam a decisão do Governo de lhes recusar o estatuto de refugiados e, por isso, mantêm-se no terminal do aeroporto. Interpuseram uma ação judicial para invalidar a decisão do gabinete de imigração e a primeira audiência vai ser realizada no dia 7 de março, prevendo-se que a deliberação final seja dada em maio ou junho.
De acordo com o advogado, Nkuka nasceu em Angola, mas mudou-se, ainda criança, para a República Democrática do Congo à procura de uma vida melhor. Agora, teme atitudes persecutórias de Angola por ter trocado o seu país pelo Congo.
Segundo o ministério da Justiça coreano, mais de metade dos 1 428 requerentes a asilo, entre 2013 e 2018, viram negado o seu pedido.