Para Simon Wallfisch, de 36 anos, Londres foi sempre a sua casa. Ele, neto de um sobrevivente de Auschwitz que jurou nunca mais querer nada com o país que assassinou os seus pais e mais de seis milhões de judeus. Só que a História acaba de trocar as voltas a este descendente do martirizado alemão e obrigá-lo a quebrar o juramento do avô.
Passaram-se mais de 70 anos sobre o Holocausto e a palavra Brexit entrou na vida de Simon, 36 anos, como uma espada. Para assegurar a tranquilidade do seu futuro e o da sua família, viu-se obrigado a pedir cidadania alemã para, desta forma, continuar a ser um cidadão europeu. Como ele, centenas de outros judeus residentes em Inglaterra fizeram exatamente o mesmo.
A embaixada alemã, em Londres, já recebeu 3.380 pedidos, desde que o referendo de junho de 2016 deu a vitória ao Brexit – na constituição há um artigo que permite que descendentes de pessoas perseguidas pelos nazis voltem a ter a cidadania, retirada aos seus antecessores durante o Terceiro Reich. Antes do Brexit, esses pedidos não excediam os 20 anuais.
É que qualquer britânico que tenha dupla nacionalidade, e uma delas seja de um país da UE, continuará a ter o privilégio de livre circulação ou trabalho dentro do espaço Schengen. E isso não é nada que, no momento atual, possa desprezar-se.