É uma pesada derrota para os Conservadores e para a primeira-ministra, Theresa May, que viu esta noite ser chumbada a sua proposta para uma saída ordeira da União Europeia por parte do Reino Unido. A proposta foi chumbada por 432 votos contra 202.
“O povo britânico votou no referendo e o parlamento decidiu suspender” essa decisão, disse Theresa May logo após os resultados. “Temos agora que nos focar em ideias genuinamente negociáveis e o Governo vai explorar essas ideias com a União Europeia. Sempre acreditei que a melhor saída seria ordeira e tenho trabalhado para isso nos últimos dois anos”, afirmou a governante, que pediu ainda ao Parlamento que trabalhasse conjuntamente com o governo para chegarem a um acordo.
Esta é “a maior derrota de um Governo desde os anos 1920 . É uma derrota catastrófica”, apelidou Jeremy Corbin, líder da oposição, que falou logo depois de May, acusando também a líder conservadora de ter fechado a porta ao diálogo e de se ter preocupado exclusivamente com o partido. “O Governo perdeu a confiança deste Parlamento e deste País”, anunciou Corbyn, revelando assim a apresentação de uma moção de censura ao Executivo de May. Esta moção deverá ser votada amanhã,16, por volta das 19 horas, segundo a imprensa britânica.
Também esta quarta-feira, Theresa May deve reunir-se com o presidente da União Europeia, Jean-Claude Juncker, que esta tarde anunciou que regressava a Bruxelas já a prever o resultado da votação na Casa dos Comuns, em Londres. Recorde-se que, segundo o artigo 50, acionado em março de 2017 pela atual líder de Governo, o Reino Unido tem um prazo de dois anos para abandonar a União Europeia. Esse prazo esgota-se já no próximo dia 29 de março.
O chumbo da proposta apresentada pelos Tories significa que voltam a estar vários cenários em cima da mesa, numa altura em que o relógio parece andar mais depressa: o Reino Unido abandona a UE sem acordo – o cenário considerado mais catastrófico tanto para conservadores como trabalhistas, e ainda mais por economistas; May consegue negociar um novo acordo com os Parlamentares; há eleições gerais no Reino Unido e um novo referendo; há eleições gerais no Reino Unido e no caso provável de uma eleição trabalhista, um acordo é rapidamente aprovado para permitir uma saída ordeira. Seja qual for o caminho a ser seguido, os próximos tempos não vão ser fáceis nem para May nem para Bruxelas.
Na UE há sinais de que podem ser flexibilizadas as regras para que não haja uma saída forçada do Reino Unido a 29 de março. Ainda esta tarde, enquanto falava aos jornalistas em Estrasburgo, Mário Centeno referiu que “é evidente que tem de haver um acordo. Este acordo, outro acordo… uma saída não ordenada não é uma solução para ninguém”. O presidente do Eurogrupo reforçou a ideia: “O pior cenário para todos é uma saída sem acordo!”
Já Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, decidiu usar o Twitter para fazer chegar uma mensagem aos líderes ingleses. Tusk parece sugerir que os Parlamentares considerem cancelar o Brexit, uma opção que pode ser tomada unilateralmente pelo país, segundo as regras europeias. “Se um acordo é impossível, e ninguém quer uma saída sem acordo, quem vai ter finalmente a coragem de dizer qual é a única solução positiva possível?”
A posição oficial do Conselho Europeu foi conhecida mais ou menos na mesma altura em que Tusk escrevia o seu tweet: “Lamentamos o resultado da votação e instamos o Governo do Reino Unido a clarificar as suas intenções sobre os passos seguintes assim que possível. A UE27 vai manter-se unida e responsável tal como tem acontecido durante todo o processo e vai procurar reduzir o dano causado pelo Brexit. Vamos continuar a preparar-nos para qualquer desfecho, incluindo um cenário de saída sem acordo. O risco de uma saída desordenada aumentou com esta votação, e ainda que não queiramos que aconteça, estaremos prontos para tal”.
Jean-Claude Juncker também reagiu via Twitter assim que a votação terminou. “Constato com pesar o resultado do voto na Casa dos Comuns esta noite. Insto o Reino Unido a clarificar a suas intenções tão breve quanto possível. O tempo está quase a terminar #Brexit”, lê-se na conta oficial do presidente da União Europeia.