As primeiras coisas que o grupo perguntou aos elementos das equipas de resgate que conseguiram localizá-los depois de nove dias de buscas foi que dia era e há quanto tempo ali estavam. Não admira. A ausência de luz do dia altera a perceção do tempo, o que, por sua vez, aumenta o risco de depressão e distúrbios do sono.
Em 1962, um geólogo francês, Michel Siffre, confinou-se a um glaciar subterrâneo que tinha descoberto perto de Nice, durante dois meses. Sem relógio nem calendário e muito menos luz solar, Siffre foi registando as suas atividades diárias. O seu contacto com o mundo exterior limitava-se a um telefonema à sua equipa cada vez que acordava, comia e antes de dormir, mas não lhe era passada qualquer informação temporal.
Quando lhe ligaram a dizer que tinham passado os dois meses, o geólogo não acreditou – estava convencido de que tinha decorrido apenas um. A sua perceção do tempo tinha sido fortemente distorcida pela constante escuridão. As suas anotações permitiram perceber que embora tenha dormido um número de horas semelhante ao “normal”, o seu ciclo de sono/vigília não era de 24 horas porque tinha passado a viver de acordo com o seu tempo “interno” e não regulado pelo nascer/pôr do sol.
No caso de Siffre, o seu relógio estava nas 24 horas e 30 minutos. Pode parecer pouco significativo, mas façam-se as contas: Sem despertador, alguém com este relógio interno pode acordar às 8h00 de segunda, mas às 8h30 na terça, às 9h na quarta e por aí adiante. Duas semanas depois, o corpo já acha que às 8h00 são 20h00. Este distúrbio do sono é comparado a viver em constante jetlag.
O ritmo interno é estabelecido pelo núcleo supraquiasmático, um centro primário de regulação dos ritmos circadianos, que recebe de um grupo de células sensíveis à luz atrás da retina a informação do que se passa lá fora, sincronizando o ritmo interno com o externo de luz/escuridão.
Ao viver na escuridão, perde-se esta ligação e é provável que, a esta altura, cada um dos rapazes na gruta tenha o seu próprio tempo interno, o que significa que uns podem querer dormir enquanto outros se sentem em plena vigília.
A alteração do ritmo circadiano tem sido ligada a problemas como depressão, perturbações metabólicas e hormonais, falta de concentração e insónia.
A solução para ajudar este grupo pode passar por fazer o mesmo que se fez em 2010, quando 33 mineiros chilenos ficaram presos numa mina durante 69 dias – fazer chegar ao local uma iluminação especial para tentar replicar o ciclo luz/escuridão exterior e “enganar” assim o núcleo supraquiasmático, levando-o a sincronizar-se com a realidade externa.