Emmanuel Macron está a tornar-se um caso sério de popularidade. A tal ponto que o seu apelido já deu origem a uma série de neologismos. Apenas três exemplos: macronismo (a sua forma de fazer política, à direita, à esquerda e ao centro – o que quer que isso seja); macronomics (o seu programa económico) e macronmania (resultante da capacidade do Presidente para seduzir as massas e marcar a agenda mediática). Um feito notável para quem até há meia dúzia de meses era um ilustre desconhecido e agora faz manchetes onde lhe chamam o “novo imperador da Europa” (Spectator) “Obama francês” (Suddeutche Zeitung), “Big Mac” (Metro, edição britânica) ou mesmo “homem perfeito” (El Mundo).
Por saber que tem de aproveitar o seu estado de graça e por desconhecer o que lhe reservam as eleições legislativas do próximo mês, Emmanuel Macron quer que o novo Governo discuta quanto antes um pacote legislativo para moralizar a vida política francesa. A sua principal proposta é que os deputados e os senadores fiquem proibidos de ocupar cargos de gestão ou sejam consultores remunerados de empresas privadas. Mas não só. Também os quer proibir de dar emprego a familiares, à custa do erário público, e limitar as respetivas carreiras a três mandatos consecutivos. Se tivermos em conta que a Assembleia Nacional, com 577 lugares, tem mais de uma centena de representantes com mais de 12 anos de hemiciclo e outros tantos – 103, nas contas do Le Monde – contrataram parentes diretos, poderemos estar perante uma autêntica revolução.
Essa “recomposição” do sistema político desejada por Emanuel Macron tem por objetivo renovar as elites mas também abrir os cargos públicos a uma nova geração saída da “sociedade civil”. E as mulheres podem ser as grandes beneficiadas com tudo isto, se o Presidente cumprir as suas promessas e apostar a sério na paridade. Seja no Governo – cuja constituição não era ainda conhecida à hora de fecho desta edição – seja nas empresas, seja no Parlamento. Em abono da verdade, convém dizer que o movimento-partido criado por Macron (La Republique en Marche) apresentou igual número de candidatos e candidatas para o escrutínio a duas mãos agendado para 11 e 18 de junho. Motivos de sobra para o inquilino do Palácio do Eliseu continuar a merecer o apoio do eleitorado feminino. Em suma, uma estratégia que se deve também à influência das mulheres que o ajudaram a conquistar o poder.
A enteada e a primeira-dama
Comecemos pelas duas que lhe estão mais próximas, por serem da família: a mulher Brigitte Trogneux, 64 anos, antiga professora de francês por quem Macron se apaixonou quando era adolescente e com qual viria a casar em 2007; e a advogada Tiphaine Auziére, 32 anos, a filha mais nova de Brigite que considera o padrasto “um tipo fora de série” e para o qual começou a trabalhar há seis meses – é candidata ao Parlamento pelo En Marche mas já explicou que não pretende ter uma carreira política.
A politóloga Nicole Bacharan e o escritor Dominique Simonnet assinaram na última terça-feira, 16, um texto no Le Monde em que diziam “ser chocante que a ação pública da primeira dama se limite aos menus das receções e à cor dos cortinados”. Já toda a gente percebeu que a mulher de Macron fará muito mais do que isso. O Presidente quer que o cargo fique definido por lei e conte com um orçamento próprio, a exemplo do que sucede nos EUA. Por uma questão de transparência e para que não se repitam as rocambolescas histórias de alguns casais que ocuparam a ala oeste do Eliseu: François Mitterrand mandou construir aí uns aposentos privados para a sua amante secreta, Anne Pingeot; e François Hollande, para fintar as burocracias, contratou a sua então companheira Valérie Trierweiler por 19742 euros mensais. A proposta de Bacharan e Simonnet é que a nova Primeira-Dama faça jus à sua experiência como pedagoga e se torne uma promotora dos “valores da cultura democrática”. Algo que deve ser do total agrado de “Bibi” e “Manon”, como o casal presidencial também é conhecido.
As damas do Eliseu
Lista abreviada de algumas conselheiras do mais jovem Presidente de França – e o primeiro a ser eleito para o cargo sem nunca ter cumprido o serviço militar
Miss Silicon Valley – Axelle Tessandier
Filha de uma família abastada, estudou em Paris, Berlim e Londres antes de ir trabalhar para a Google, em São Francisco. Em 2016, a fundadora da AXL Agency decide regressar a França depois de seis anos de EUA e de assistir a uma conferência sobre imortalidade. Pouco tempo depois, conheceu Macron e torna-se delegada nacional do movimento presidencial.
Conselheira teutónica – Sylvie Goulard
A eurodeputada do MoDem (partido centrista liderado por François Bayrou, que em março decidiu apoiar Macron) foi um dos grandes trunfos de campanha do agora Presidente. Graças aos seus contactos e fluência em alemão, foi ela quem organizou há dois meses o encontro entre o então candidato e a chanceler Merkel.
Senhora cultura – Fréderique Dumas
Formada em ciências da comunicação, é uma produtora cinematográfica de sucesso. Mas a política tem sido uma constante na sua vida desde que, em 1986, fez parte do governo de Jacques Chirac. Membro do núcleo duro do En Marche, há cinco meses que aconselha Macron em matérias culturais e de educação.
Mamã-trabalho – Marlène Schiappa
Advogada especializada em direito laboral e questões de género é também uma blogger de sucesso devido à sua página Maman Travaille. Apoiante de Macron e do En Marche desde a primeira hora, tem 36 anos e dois filhos. Nas suas entrevistas recentes a mensagem é clara: “A vida das mulheres vai mudar com Macron na presidência.”
Sindicalista incondicional – Catherine Barbaroux
Aos 68 anos, diz que continua a ser uma mulher de esquerda e pouco se importa que a acusem de ser uma colaboradora próxima do homem que trabalhou para o banco Rothschild. A sua carreira política e sindical já tem mais de quatro décadas e trabalhou com Mitterrand e sob as ordens de quatro ministros do Trabalho.
Mestre da imagem – Soazig de la Moissonière
São desta fotógrafa de 36 anos algumas das melhores imagens de Emmanuel Macron em campanha, incluindo as do atual Presidente a jogar à bola com um grupo de jovens ou a desfilar junto à pirâmide do Louvre na noite da vitória. A cumplicidade que existe entre ambos faz com que ele nem precise de olhar para a objetiva, sobretudo nos retratos a preto e branco.
Senadora da laicidade – Bariza Khiari
A diretora do Instituto das Culturas do Islão foi uma das primeiras personalidades socialistas a dar a cara pela corrida presidencial de Macron. Com 70 anos, a antiga senadora faz parte do núcleo duro do En Marche e os seus conselhos sobre religião e laicidade quase de certeza que irão ser ouvidos no Palácio do Eliseu.
Estratega em marcha – Laetitia Avia
Com apenas 31 anos, esta professora de ciência política e advogada especializada em contencioso comercial foi uma das dirigentes do En Marche a quem coube analisar e escolher os mais de 19 mil currículos para formar as listas do partido às legislativas de junho. É uma personalidade que o novo Presidente gosta de elogiar.
Madrinha presidencial – Sophie Ferracci
Há mais de 15 anos que Marc e Sophie Ferraci conhecem Emmanuel Macron, o agora Presidente foi um dos padrinhos de casamento do casal. Ambos participaram ativamente na campanha, mas ela, especialista em direito fiscal e sua antiga chefe de gabinete no ministério da Economia, é considerada uma colaboradora indispensável.
Guardiã e costureira – Sibeth Ndiaye
Esta franco-senegalesa de 37 anos é uma das vedetas e um dos pilares da campanha de Macron. O seu talento para organizar a agenda mediática do candidato presidencial produziu milagres e o seu visual excêntrico também ajudou. Antiga militante socialista e mestre em economia, tem três filhos e é quase sempre ela que faz a roupa da família.