É só mais um dado do percurso ziguezagueante da primeira-ministra britânica rumo à saída do Reino Unido da União Europeia (UE). O jornal The Guardian revelou, esta quarta-feira, 26, gravações secretas de uma conversa que Theresa May teve com banqueiros, um mês antes do referendo do Brexit, e na qual defendeu que o seu país se deveria manter na UE. Uma postura que a governante nunca assumiu muito abertamente em público e que contrasta com o que defende agora.
Na gravação de uma conferência da Goldman Sachs, decorrida a 26 de maio, ouve-se Theresa May defender a permanência do Reino Unido na União e alerta para os perigos que o Brexit poderia acarretar para a economia britânica. O estranho é que, apesar do seu pensamento próeuropa, a então ministra do Interior do executivo liderado por David Cameron nunca se tenha empenhado na defesa dessa posição durante a campanha do referendo.
“O argumento económico é claro. Fazer parte de um bloco comercial com 500 milhões de pessoas é significativo para nós. Muitas pessoas investem aqui no Reino Unido porque é um Reino Unido na Europa”, sublinhou então Theresa May.
Segundo ela, sem o Reino Unido na UE, haveria empresas tentadas a considerar a necessidade de desenvolver uma presença na Europa continental em vez de investirem no Reino Unido.
Ora essas observações estão em nítido contraste com o que a atual primeira-ministra tem defendido ultimamente.
Já em outubro, durante a convenção do Partido Conservador, Theresa May defendeu que a redução da imigração é uma prioridade em relação à pertença ao mercado único. Afirmou nomeadamente que as empresas britânicas precisam do “máximo de liberdade” para atuarem no mercado único, mas que isso não poderá acontecer à custa de se “desistir novamente do controlo da imigração” ou de aceitar a jurisdição de juízes no Luxemburgo.
Cinco meses antes, afirmara perante os banqueiros a sua convicção de que a segurança do Reino Unido ficaria melhor servida dentro da União Europeia devido a ferramentas como o mandado de captura europeu e a partilha de informações entre polícias e serviços de informações dos vários países.
“Há definitivamente coisas que podemos fazer enquanto membros da União Europeia que nos mantêm mais seguros”, disse.
Durante a campanha para o referendo, May tomou algumas posições discretas e contraditórias. Defendeu, por exemplo, que independentemente de o Reino Unido ficar ou não na UE, deveria abandonar a Convenção Europeia dos Direitos Humanos.
Durante a campanha para o referendo, May foi duramente criticada pelos seus correligionários do Partido Conservador que defendiam a manutenção do Reino Unido na União. Muitos levaram a mal era não se ter empenhado no debate político com argumentos a favor de se ficar na União. As más línguas no gabinete de David Cameron chegaram a questionar-se se ela não seria uma infiltrada do lado oposto e houve mesmo quem sugerisse que ela, ao ser discreta nos seus argumentos a favor da UE, se estaria a preparar para uma disputa do poder no caso de caso a saída da UE vencer o referendo. Não só o Brexit venceu, como ela entrou na corrida à liderança dos conservadores. E ganhou, substituindo Cameron na chefia do partido e do governo.