Eram 8:45 horas da manhã húmida que esta segunda-feira se fez sentir em França quando começaram a chegar os primeiros autocarros que até ao final da semana vão mudar a vida de todos os “residentes” do acampamento improvisado de Calais.
Os números não estão confirmados mas estima-se que sejam entre 6 e 10 mil migrantes, dos quais 1291 são crianças, e que neste último fim-de-semana reuniram tudo o que têm e fizeram as malas para pôr fim aos meses em que não souberam o que era viver nas condições dignas a que têm direito.É assim que começa o desmantelamento daquela que tem sido apelidada como “selva de Calais”.
Local de acolhimento de milhares de refugiados e migrantes que, vindos sobretudo do Afeganistão, do Sudão, da Eritreia e da Síria, fogem da guerra ou da pobreza e por ali ficaram na esperança de atravessar o Canal da Mancha rumo a Inglaterra.
O plano foi do governo francês que, pressionado pela ala direita do parlamento para dar um rumo à questão dos refugiados, anunciou, em setembro, o fim do campo. Os responsáveis garantem que existem vagas para a transferência de cerca de 7500 refugiados nos 400 centros de acolhimento espalhados por França.
As equipas de voluntários no terreno distribuíram panfletos para que cada um dos “habitantes” do campo de Calais pudesse escolher o sítio onde ficaria. Na papelada que preencheram deveriam categorizar-se entre: famílias, menores sozinhos, migrantes sozinhos ou migrantes em risco (idosos, desnutridos, doentes, feridos, mulheres grávidas, etc.).
O asilo é opcional e nenhum refugiado será forçado a nada, a não ser abandonar o campo. O porta-voz do Ministério do Interior francês, Pierre-Henry Brandet, fez saber que “o processo será voluntário e não serão aplicadas medidas coercivas contra os migrantes”
Apesar das negociações entre França e o Reino Unido, para a maioria destas pessoas o fim de Calais não significa a desejada partida para Inglaterra. Os menores sozinhos (cerca de 400 crianças) que têm família no outro lado do canal da mancha vão ficar duas semanas em centros de acolhimento provisórios em França para depois serem entregues aos pais, mas os restantes vão permanecer em França.
O problema dos menores completamente sozinhos está ainda por resolver mas as negociações continuam na esperança de que possam também ser aceites pelo governo britânico.
Uma economia mais estável e mais oportunidades de emprego, além daqueles que já lá têm família, faz de Inglaterra uma opção preferida ao centro da Europa. Esta preferência levou à construção de um muro no acesso ao canal e fez deste um local de tensão diária entre autoridades e os que tentam ilegalmente apanhar os autocarros que os levam ao Eurotúnel da travessia.
Este processo de desmantelamento do campo está também envolto numa tensão que já se veio a registar durante as últimas duas noites porque muitos são os que estão dispostos a enfrentar o forte contingente policial (1250 polícias e guardas) ali instalado para concretizarem o seu sonho inglês.