Quase 20 anos depois do escândalo que tornou o seu nome reconhecido em qualquer parte do mundo, Monica Lewinsky quebra o silêncio e conta ao The Guardian os efeitos da humilhação pública de que foi alvo.
A mulher que ficou famosa pelo caso com o então presidente dos EUA, Bill Clinton, explica que a exposição foi “excruciante” e que esteve “muito perto” do suicídio. Em 1998, quando o FBI lhe fez uma “emboscada” e percebeu que a sua confidente Linda Tripp tinha gravado mais de 20 horas de conversas telefónicas, durante os quais a ex-estagiária da Casa Branca confessava pormenores íntimos da sua relação com Clinton, Monica foi arrastada para o escândalo que levaria ao pedido de impeachment que quase levou à demissão do presidente dos EUA.
Agora, ao The Guardian, Lewinsky descreve a sensação daqueles tempos: “Em 1998 e 1999, senti como se cada camada da minha pele estivesse a ser arrancada. É uma espécie de esfolamento. Sentimo-nos incrivelmente inexperientes e assustados. Mas também acho que a vergonha se cola a nós como alcatrão”
Lewinsky fala agora da sua missão como ativista na defesa das vítimas de cyberbullying e escolhe o diário britânico no contexto de um projeto sobre assédio online chamado “The Web We Want”. Uma pesquisa do jornalista Jon Ronson aos comentários dos leitores do The Guardian mostra que a maioria dos abusos acontece em peças assinadas por mulheres e que se tratam sobretudo de ameaças de violação, insultos sexistas e misóginos. Mas Lewinsky acredita que o assédio online não é um problema exclusivamente masculino
Monica tentou refazer a sua vida depois do escândalo e voltar ao anonimato, mas conta que nunca conseguiu. Todas as portas que tentou abrir se fecharam. Estudou em Londres, participou em diversos documentários, mas a pergunta “qual a sensação de ser a rainha do sexo oral da América” nunca a deixou sossegada.
“Foram dez anos desoladores. Debati-me com dificuldades, não conseguia encontrar o meu caminho”, admite Lewinsky. Mas foi quando uma antiga professora lhe disse que “quando há poder envolvido, tem de haver uma narrativa que compita com a principal” que Monica percebeu que tinha que viver com o passado e usá-lo para ajudar outros que estivessem em situações parecidas. Em 2014, escreve um ensaio para a revista Vanity Fair, intitulado Vergonha e Sobrevivência, onde explica como foi a primeira vítima de humilhação online. Em 2015 foi uma das oradoras convidadas da conferência TED e hoje em dia trabalha com várias organizações que lidam com o problema do assédio online.
O seu último projeto é uma linha de emojis antibullying, criados em parceria com a Vodafone.
Continua a viver com o medo de uma declaração mal entendida ou com a projeção das suas palavras. Mas diz que já percebeu que o facto de a sua história estar ligada à de tantas pessoas com poder e projeção pública nos EUA isso significa que de cada vez que essas pessoas estão no centro das atenções, também ela é um potencial assunto. Isso está novamente a acontecer, agora que os EUA se debatem entre Donald Trump e Hillary Clinton. Trump lançou mesmo uma campanha no Instagram onde inclui uma fotografia da jovem Lewinsky de boina, a sorrir a Bill Clinton.
“Sou afetada pelo que acontece no palco mundial. Mas não vou deixar que isso me afaste”, garante.