Mais uma noite, mais uma tentativa de centenas de emigrantes para entrarem no Eurotúnel. E, como de costume, mais uma operação policial para os deter. Em Calais, no norte da França, o ritual repete-se e a situação arrasta-se. Perto de cinco mil emigrantes continuam à espera de uma oportunidade para atingirem o Reino Unido, ao mesmo tempo que o aparato de segurança é reforçado e as autoridades francesas e britânicas trocam argumentos e acusações sem que ninguém resolva o problema.
Ceuta, Melilla, Lampedusa, Ventimiglia, Lesbos e Calais são tudo nomes para o mesmo problema. A Europa não pode ignorar que o mundo tem hoje 60 milhões de refugiados, dispostos a tudo para fugirem à miséria e à violência. Desde o início do ano, mais de 230 mil pessoas entraram clandestinamente no espaço Schengen, a maioria através do Mediterrâneo, convertido num cemitério que já tragou mais de duas mil vidas. Com o que se passa na Síria e na Líbia, só para dar dois exemplos, é bem provável que a crise possa agravar-se e novos Calais se multipliquem, enquanto os governos europeus discutem milhões em medidas securitárias. Os resultados estão bem visíveis no orçamento da Frontex, a agência responsável pelas fronteiras comuns dos 28: há uma década não chegava aos 7 milhões de euros; em 2015, deverá ultrapassar os 115 milhões.
Como a ironia interpela demasiadas vezes a realidade, Calais, um local mítico e estratégico, vai receber um “novo mundo”: Heroic Land (Terra Heróica), um parque de aventuras que pretende competir com o Eurodisney de Paris. Com abertura prevista para 2019, fica a meros cinco minutos da “Nova Selva”, o acampamento de refugiados de que meio mundo anda a falar e já toda a gente viu nas notícias.