“O último trimestre foi já o melhor de sempre (mais 6% do que em 2019) do calçado português nos mercados internacionais, para onde o setor exporta mais de 95% da sua produção”, avança a Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS), que promove a participação nacional na feira de calçado MICAM, de domingo a terça-feira em Milão, Itália.
De acordo com a associação, “ainda que os dados internacionais apontem para uma recuperação plena do calçado a nível mundial apenas em 2023, no caso português o último trimestre do ano superou já as melhores previsões”.
A APICCAPS recorda que o impacto da pandemia provocou uma queda do consumo de calçado na ordem dos 20% a nível mundial, que se traduziu numa quebra de quatro milhões de pares, “o equivalente a 70 anos de produção de calçado em Portugal”.
Na totalidade do ano 2021, Portugal exportou 69 milhões de pares de calçado, no valor de 1.676 milhões de euros, tendo as vendas crescido “em todos os mais relevantes mercados”, com destaque para o alemão, com um acréscimo de 28%, para 389 milhões de euros.
“Depois de meses de alguma indefinição”, o mercado francês recuperou e terminou com um crescimento de 4,2%, para 334 milhões de euros, enquanto os Países Baixos aumentaram 16,6%, para 248 milhões de euros.
Fora da Europa, a APICCAPS realça os “bons desempenhos” nos EUA (mais 15,2%, para 75 milhões de euros), Canadá (mais 26,7%, para 12 milhões de euros), China (mais 17,1%, para 20 milhos de euros) e Austrália (mais 39,8%, para nove milhões de euros).
A associação destaca mesmo que, em alguns segmentos de produtos, como o calçado segurança (crescimento de 16% para 29 milhões de euros), calçado impermeável (mais 56%, para 56 milhões de euros) ou calçado em materiais têxteis (crescimento de 36%, para 75 milhões de euros) o setor alcançou “novos máximos históricos em matéria de exportação”.
“O setor terminou o ano a crescer a um excelente ritmo no exterior, sendo esse um registo que pretendemos manter em 2022”, sublinha o presidente da APICCAPS, citado no comunicado.
Segundo Luís Onofre, “as empresas foram resilientes, adaptaram-se a um mercado em mudança e fizeram o trabalho de casa para estarem, agora, bem posicionadas para enfrentar uma nova década de crescimento nos mercados internacionais”.
Neste sentido, a indústria portuguesa de calçado anunciou recentemente que vai investir 140 milhões de euros nos próximos três anos, através do Cluster do Calçado e Moda, liderado pela APICCAPS, e do Centro Tecnológico do Calçado de Portugal (CTCP), para ser “a referência internacional no desenvolvimento de soluções sustentáveis”.
O setor pretende ainda “reforçar as exportações portuguesas alicerçadas numa base produtiva nacional altamente competitiva, fundada no conhecimento e na inovação”.
Este investimento será feito através de dois projetos distintos, mas complementares, enquadrados no Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) e que juntam mais de 100 participantes, entre empresas, universidades e entidades do sistema científico e tecnológico.
Com um orçamento de 80 milhões de euros, o projeto ‘BioShoes4All’ pretende “garantir uma base produtiva nacional resiliente para posicionamento no mercado internacional”, com foco na “inovação, diferenciação, resposta rápida e eficaz, serviço, qualidade dos produtos, capacitação e promoção”.
Já o ‘FAIST’, que terá uma dotação orçamental de 60 milhões de euros, pretende “aumentar o grau de especialização da indústria portuguesa de calçado para novas tipologias de produto” e potenciar “a capacidade de oferta das empresas portuguesas de calçado através do reforço da capacidade de fabricar médias e grandes encomendas, utilizando processos de montagem mais eficientes”.
No que se refere às importações portuguesas de calçado, em 2021 somaram 44 milhões de pares, no valor de 527 milhões de euros (mais 2,7%), o que resulta num saldo positivo do setor de 1.149 milhões de euros.
“O calçado continua a desempenhar um papel muito relevante na economia portuguesa, sendo um dos produtos que mais positivamente contribui para o equilíbrio da nossa balança comercial externa”, salienta Onofre.
De acordo com a APICCAPS, o ano 2021 foi também “de afirmação no exterior” para o setor de artigos de pele e marroquinaria, que bateu um novo recorde ao exportar um total de 202 milhões de euros, mais 31% face ao ano anterior.
Os artigos de pele portugueses “cresceram praticamente em todos os mercados”, com destaque para os desempenhos em Espanha (mais 24%, para 53 milhões de euros) e França (mais 49%, para 44 milhões de euros).
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