A TAP encerrou as contas de 2020 com um resultado líquido negativo de 1.230 milhões de euros, uma verba superior aos apoios de 1.200 milhões de euros que o Estado concedeu à empresa no ano passado, no âmbito do Plano de Recuperação.
A política de corte de custos da transportadora aérea nacional não foi suficiente para estancar esta sangria que está a afetar praticamente todas as companhias de aviação. Segundo a IATA, entidade que regula a aviação comercial, esta crise poderá ter trazido prejuízos de 118 mil milhões de euros, em 2020, para todo o setor.
Um número que poderá ficar aquém da realidade a avaliar pelos resultados que vão sendo conhecidos das companhias aéreas espalhadas pelo mundo. A IAG, dona da British Airways e da Iberia, registou resultados negativos de 7,4 mil milhões de euros, a American Airlines perdeu 7,3 mil milhões, a Air France/KLM anunciou prejuízos de 7,1 mil milhões de euros, a Lufthansa fechou o ano com 6,7 mil milhões negativos, a japonesa, All Nippon ficou com menos 3,9 mil milhões nas contas, entre muitas outras.
Em termos operacionais, a TAP conseguiu reduzir as despesas em 38%, passando de 3 245 milhões em 2019 para 2 025 milhões no ano passado. Só em custos com o pessoal a empresa conseguiu cortar 260 milhões de euros. Em combustível, a poupança atingiu os 530 milhões de euros e na operação do tráfego as despesas foram reduzidas em 457 milhões.
A empresa renegociou com a Airbus, o principal fornecedor de aeronaves da TAP, os contratos de aquisição de aviões, nomeadamente a compra dos novos A320neo e A330neo, o que poderá representar uma poupança total de aproximadamente mil milhões de euros ao longo dos próximos anos.
No ano passado entraram em operação mais sete aviões novos, todos com menor dimensão, maior alcance e que consomem menos combustível, o que baixa o custo por viagem, e deixaram de operar 16 aviões dos mais antigos. Para ir de encontro à grande procura que se faz sentido no mercado da carga aérea, a TAP converteu dois aviões de passageiros e aparelhos de carga.
Os custos baixaram significativamente, mas a queda de receitas foi superior a essa contenção. A TAP transportou 4,6 milhões de passageiros em 2020, o que corresponde a uma quebra de 72,7% face aos 17 milhões do ano anterior. As receitas das passagens registaram uma descida similar, de 71%, baixando dos 2,9 mil milhões para 848 milhões no período em análise.
A faturação caiu em todas as atividades da transportadora aérea nacional. A manutenção de aeronaves para outras companhias teve uma receita de menos 143 milhões de euros face ao ano anterior, o que corresponde a uma descida de 68%. O transporte de carga perdeu apenas 8,5%, atingindo um volume de negócios de 126 milhões de euros.
A única nota positiva, num ano de crise sem precedentes, foi a variação cambial que proporcionou uma receita adicional de 162 milhões de euros.
Plano em curso
No final do ano passado, a TAP apresentou o plano de reestruturação em Bruxelas que prevê que a empresa equilibre as suas contas em 2023 e consiga dar lucros em 2025. Entretanto, em março deste ano, o Governo apresentou à Comissão Europeia um pedido para conceder um auxílio intercalar de 463 milhões de euros à TAP, de modo a garantir a liquidez necessária até que o Plano de Reestruturação fosse aprovado.
Segundo o Plano de Reestruturação, o Estado irá, até 2025, injetar ou avalizar empréstimos – contando com os 1,2 mil milhões que já entraram na empresa em 2020 para “garantir necessidades de liquidez imediatas” – de 3,75 mil milhões de euros.
O plano prevê a saída de mais de 2000 trabalhadores, cortes de salários e redução da frota de 108 para 88 aviões. Segundo o documento que foi enviado para Bruxelas, a TAP ira conseguir recuperar, em 2021, o equivalente a 46% dos passageiros que tinha antes da pandemia. E só em 2025 irá conseguir atingir os valores pré-Covid. De lembrar que antes da pandemia, a empresa tinha registado um crescimento do número de passageiros em quase todos os anos.
Ao longo desse período, o plano de reestruturação previa que a TAP registasse prejuízos acumulados de 6,7 mil milhões de euros. A avaliar pelos resultados do ano passado, essa poderá ser uma meta bem difícil de atingir.