Ajoelhar para receber a medalha de ouro
Eram sete jogadores no relvado, outros cinco no banco de suplentes e não mais de uma centena de compatriotas nas bancadas. Mas foi como se estivessem a jogar “em casa”, embora, na verdade, a sua “casa” seja a mais de 13 mil quilómetros de distância do Rio de Janeiro. Para encontrar a localização da nação de onde veio aquela equipa, temos que traçar, no mapa, desde o Brasil, uma linha ligeiramente diagonal para oeste, por dentro do Pacífico Sul, até chegarmos a um pequeno arquipélago de 300 ilhas e ilhotas (a maioria desabitadas), com pouco mais de 800 mil habitantes. É isso: são as ilhas Fiji e escreveram uma das mais belas páginas da história das Olimpíadas do Rio de Janeiro.
O programa da final, na noite de quinta-feira, 11, não podia ser mais emblemático para assinalar o regresso do râguebi (agora na modalidade de Seven) aos Jogos Olímpicos: Grã-Bretanha vs. Fiji, os inventores da modalidade frente a um pequeno país da metade do mundo (o hemisfério Sul) onde aquele jogo mais se desenvolveu e apurou. Quando o râguebi tinha sido jogado pela última vez nos Jogos, em 1924, ainda as Fiji estavam a 46 anos de distância de deixarem de ser uma colónia britânica (só o conseguiram em 1970). Agora, estavam prontos para dar uma lição de bem jogar aos seus antigos colonos, apoiados por um estádio quase inteiro, excepto na tribuna de honra, onde a presença da princesa Ana de Inglaterra (membro do Comité Olímpico Internacional e ela própria antiga atleta olímpica) inibia qualquer tipo de entusiasmo assim, digamos, a roçar o plebeu.
Mas a verdade é que nem a princesa conseguiu disfarçar um certo desconforto com o que viu mal o jogo começou. Em menos de dois minutos, a Grã-Bretanha sofreu dois ensaios dos velozes, fortes e unidos homens das Fiji. Para delírio das bancadas, que exultavam mal a equipa do hemisfério Sul roubava a oval ao grupo adversário (que não conseguia passar sequer a linha do meio-campo) e cavalgava em direcção a mais uns pontos. O resultado ao intervalo era esclarecedor: 29-0, com as Fiji a conseguirem cinco ensaios nos sete minutos do primeiro tempo.
A segunda parte seguiu o mesmo padrão, como espelha o resultado final de 43-7 (ok, a quatro minutos do fim os britânicos conseguiram, por uma vez, passar as linhas da defesa adversária…). Ou seja: aquilo a que se chama “uma tareia” das antigas. Daquelas que, nas bancadas, uniu os todos os representantes do Hemisfério Sul, numa mesma celebração e que fez soltar até, com humor, alguns gritos de “Brexit, brexit”. Mas sem a conotação habitual que costumamos ouvir na Europa. Aqui, era apenas uma forma divertida de dizer “bye, bye” aos antigos colonos.
Mas se os homens das Fiji ganharam como qualquer equipa deseja ganhar – com uma vitória estrondosa e categórica – a verdade é que também a souberam comemorar como mais ninguém: de uma forma serena, cavalheiresca e extremamente desportiva. No relvado, mantiveram sempre uma postura respeitosa perante os derrotados e andaram sempre todos juntos e unidos a agradecer aos público nas bancadas e a posar para as fotografias. Uma verdadeira equipa em todos os sentidos.
Na cerimónia do pódium – o primeiro de sempre na história olímpica das Fiji – foram absolutamente inesquecíveis. Um a um, ajoelharam-se para receber as medalhas de ouro que a princesa Ana lhes ia pondo sobre o pescoço. Os verdadeiros cavalheiros do râguebi.
Elisa di Francisca
Elisa, a europeia
No Parque Olímpico da Barra, a celebração do dia pertenceu a Elisa di Francisca, a esgrimista italiana que, apesar de não ter conseguido manter o título olímpico conquistado há quatro anos, aproveitou a subida ao pódium para receber a medalha de prata em florete de uma forma como nunca tinha sido vista anteriormente em Jogos Olímpicos: com a bandeira da União Europeia.
Foi uma atitude que ela quis realçar da seguinte forma: “Uma homenagem às vítimas dos atentados de Paris e de Bruxelas, e para dizer que a Europa existe e está unida contra o terrorismo”.
A atitude da atleta foi particularmente apreciada pela chefe da diplomacia europeia, a também italiana Federica Mogherini, que, no twitter, aplaudiu duplamente Elisa Di Francisca, por ter dado uma medalha de prata a Itália e por ter recordado que a bandeira europeia “representa os melhores ideais da juventude”.