Nicolau Santos tinha 20 anos no 25 de Abril de 1974. Era um revolucionário, em Luanda, que acreditava, entusiasmado, que ia contribuir para o nascimento de um país justo e totalmente novo. A ilusão durou só até 1975 quando decidiu que o melhor era rumar a Lisboa. Consigo ficariam para sempre memórias vívidas: das longas distâncias, dos cheiros, dos piqueniques intermináveis ou da comida picante acompanhada pela Pepsi-Cola que nunca faltava em casa, trazida da empresa do pai.
Com Amarelo Tango passou a integrar a lista, bastante significativa, de jornalistas que publicam um romance. Era um sonho antigo? A concretização levou muito tempo?
Há muito tempo que achava que tinha de escrever alguma coisa sobre o período que passei em Angola. Um tempo muito marcante para a minha geração, quando perto dos 20 anos começámos a ter consciência e atividade política. E havia uma história anterior a tudo isso, que era a da ida do meu avô para Angola. Achei que havia episódios riquíssimos que se tinham passado, alguns que eu nem conhecia na altura. Fui descobrindo, fui ouvindo, fui lendo. A certa altura decidi avançar, e isso aconteceu quando me demiti do Público, em 1997, e estive seis meses como freelancer. Aí tive oportunidade de passar algum tempo na Biblioteca Nacional a consultar o jornal A Província de Angola, que foi uma fonte de informação importantíssima, descobrem-se ali coisas extraordinárias, com vários pontos de contacto com as histórias que queria contar. Mas ao fim desses seis meses, o dr. Balsemão convidou-me para ser subdiretor, e depois adjunto, do Expresso, e tive que parar. Não se consegue escrever um romance aos fins de semana, nas férias… Aliás, neste processo fiquei com um enorme respeito por todos os escritores. Escrever um romance exige uma dedicação total durante um período importante da vida. Com um emprego, filhos, uma casa para sustentar… é muito difícil. Se fazemos muitas paragens longas, quando regressamos ao livro os personagens já não estão, pensávamos que estavam, ou estão a fazer outras coisas [risos], é uma confusão.