A coleção do antigo Teatro da Cornucópia, que cessou atividade em 2016, é uma das doações que veio ampliar o acervo do museu.
O MUDE encerrou em maio de 2016, para obras do edifício de oito pisos, antiga sede do Banco Nacional Ultramarino, na rua Augusta, na Baixa de Lisboa, mas continuou a atividade numa programação de exposições, dentro e fora da capital, intitulada “MUDE Fora de Portas”.
As obras da requalificação integral “têm estado a decorrer dentro da normalidade, apesar deste cenário geopolítico mundial, que a todos afeta, gerar algumas dificuldades nos fornecimentos dos materiais e no aumento do seu custo”, indicou, em entrevista à Lusa.
De acordo com a diretora do museu, as equipas do projeto e os serviços da Câmara Municipal de Lisboa (CML) “têm estado em estreita colaboração na procura de soluções para concluir esta grande obra”, interrompida durante quase três anos, por insolvência da construtora inicialmente selecionada.
Apesar de estar encerrado há seis anos, o MUDE tem continuado com uma programação expositiva e tem também recebido doações de coleções da área do design, nomeadamente do antigo Teatro da Cornucópia — que cessou atividade em 2016 -, através dos seus diretores, o fundador, Luís Miguel Cintra, e a cenógrafa, figurinista e designer Cristina Reis.
“Esta doação da coleção do Teatro da Cornucópia/Cristina Reis foi muito importante para o MUDE, porque é representativa, e muito significativa em termos patrimoniais e históricos, da ligação entre o design a as artes de palco”, sublinhou Bárbara Coutinho.
O conjunto ascende a mais de 1.400 peças de núcleos muito diferentes, nomeadamente bibliográfico, acessórios e adereços, design gráfico, incluindo cartazes e maquetes de espetáculos, muitos deles concebidos por Cristina Reis.
A diretora do MUDE salientou a riqueza deste acervo — “que revela a grande importância que o Teatro da Cornucópia teve na cultura portuguesa” -, para o reforço do núcleo de design gráfico do museu, e até para a criação de um novo núcleo consagrado ao design de palco.
“A nossa missão continua a ser reforçar a memória, e preservação do nosso património para criar uma historiografia do design em Portugal, que forme também uma crítica mais profunda” desta disciplina, continuando a disponibilizar o acervo ‘online’ para investigadores e estudantes, mas também para o público em geral interessado em design e moda.
As obras do edifício ficaram interrompidas, de 2018 a maio de 2021, “por um motivo totalmente alheio ao MUDE e à CML, devido à insolvência da empresa construtora Soares da Costa, encarregada de fazer a primeira empreitada”, recordou Bárbara Coutinho.
Esta situação “veio provocar atrasos muito significativos e uma necessidade de cumprir toda a legislação em vigor, com a revisão de todo o projeto e a abertura de novo concurso publico internacional, que veio a acontecer em maio de 2021, retomando a obra pela empresa Teixeira Duarte”, relatou.
Com a meta de “reabrir o museu para a cidade, para o país, aos visitantes nacionais e estrangeiros”, as equipas do MUDE continuam a planificar e coordenar, em articulação com vários serviços da CML, e “contando com o empenho e a colaboração do executivo e da vereação da cultura” da autarquia, vincou Bárbara Coutinho.
“O objetivo é trabalhar com todo o ânimo e consciência das dificuldades e da responsabilidade que temos, tendo como meta que a reabertura do MUDE ocorra no quarto trimestre deste ano, ou seja no final de 2023”, disse, acrescentando que ainda não foi possível marcar uma data precisa.
Em 2022, das duas exposições realizadas no âmbito do “MUDE Fora de Portas”, uma foi dedicada aos cem anos de design gráfico em Portugal através da coleção Carlos Rocha, e a outra intitulou-se “Portugal Pop”, com a visão dos últimos 50 anos da história da moda no país.
“Não temos estado parados. Temos continuado a nossa programação ‘Fora de Portas’, que irá continuar, mesmo depois de reabrir o museu”, avançou à Lusa Bárbara Coutinho, sobre a atividade futura.
No entanto, ressalvou, “este ano não haverá uma programação expositiva fora de portas para as equipas se concentrarem na reabertura, apenas pequenos eventos, como o lançamento de catálogos ou debates”.
“A reabertura de um museu implica um vastíssimo trabalho de diferentes naturas e escalas, que tem sido feito e vai ser intensificado este ano”, daí a paragem temporária das exposições, mas a equipa tem continuado a trabalhar nas suas diferentes funções e tarefas, uma delas o estudo, inventariação e catalogação de todo o acervo, que — frisou — “tem vindo a crescer e a valorizar-se”.
Outro exemplo recente de incorporações, além do Teatro da Cornucópia, foi o da coleção de design gráfico de Carlos Rocha (1943-2016), com mais de seis mil unidades arquivísticas, que entrou no MUDE como depósito de longa duração.
“Há uma confiança da parte dos profissionais do design em entregar coleções ao museu para preservar a história desta disciplina, da compreensão da teoria, da prática e da própria crítica do design”, salientou Bárbara Coutinho.
Inaugurado em 2009, com base na Coleção Francisco Capelo, o MUDE recebeu, até à data de encerramento do edifício sede, mais de 1.920.500 visitantes, em quase 60 exposições e cerca de 170 eventos relacionadas com o seu acervo.
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