Simone de Oliveira, 84 anos, enche uma sala. Seja esta nos cafundós do Coliseu dos Recreios, entre fotografias de glórias passadas dessa sala histórica lisboeta, onde dá uma entrevista à VISÃO desfiando memórias e cigarros, seja aquela, lá em cima, com o grande palco e mais de três mil lugares disponíveis à frente. Foi esse o local escolhido para uma despedida que vai acontecer na terça-feira, 29 de março. Um ponto final numa carreira longa, marcada por sucessos como Desfolhada Portuguesa (com a qual venceu o Festival da Canção, em 1969), Sol de Inverno ou Vocês Sabem Lá… Mas marcada, também, por momentos difíceis, como aquele em que perdeu a voz, durante mais de três anos, ou a superação de dois cancros. Hoje, sacode as recordações mais difíceis com uma piada oportuna e uma sonora gargalhada e não dá demasiada confiança a nostalgias e saudades de um passado glorioso. “Não tenho o hábito de me ouvir, se estiver a passar na RTP Memória, não me interessa nada ver-me… Não vale a pena. Eu estava lá, sei como foi!”
O concerto do próximo dia 29, no Coliseu dos Recreios, é apresentado como o último da sua carreira. É importante para si, até simbolicamente, afirmar que é mesmo um ponto final depois de tantos anos a subir aos palcos?
Sim, é uma decisão minha. Ponto final, parágrafo. Sessenta e cinco anos deste percurso… Já chega. Subi muitos degraus, desci alguns, tive momentos menos bons. Agora, vamos despedir-nos juntos, eu e o público. Eu ainda com a cabeça no sítio, sabendo o que estou a fazer, calma, serena, com a voz boa, com tranquilidade. Foi uma vida maravilhosa, vamos acabar assim, também. Mas eu estou ótima, e sei que ainda tenho uma memória espantosa. Se há coisa que me mete medo é aquela maldita doença em que deixamos de saber quem somos…