Às vezes, nestas coisas da leitura, brinca Ana Luísa Amaral, “é preciso ser poupado”, esticar um livro até ao limite da curiosidade, até ter mesmo de o acabar. Faltam-lhe pouquíssimas páginas para terminar The Testaments, o muito aguardado romance de Margaret Atwood, lançado no ano passado e distinguido com o Man Booker Prize.
É a continuação do livro mais famoso da escritora canadiana, The Handmaid’s Tale, de 1985, tornado fenómeno global com a adaptação a série televisiva. Em Portugal, os dois livros estão publicados pela Bertrand, com os títulos A História de uma Serva e Os Testamentos, este último nas livrarias apenas desde março passado, o que hoje, com o surto de Covid-19 e a quarentena forçada, parece já uma eternidade.
A poeta e ensaísta, professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, está a ler o romance no original, como faz por regra, ou não fosse também uma destacada tradutora, nomeadamente da poesia de Emily Dickinson. Além disso, teve a “felicidade” e o “prazer” de ter estado com Margaret Atwood no Hay Festival, na Colômbia, no início deste ano. “É um livro extraordinário, perfeito para este tempo que estamos a viver, entre a distopia e a esperança”.
Tem pena de não poder referir nenhum livro de autor português, que lê com frequência, embora não seja o caso no momento. A quarentena levou-a para outras paragens. Desde logo para uma das suas “paixões”, o universo infinito de Shakespeare. Está a ler 1606: William Shakespeare and the Year of Lear, um estudo “fantástico” de James S. Shapiro, ainda sem tradução portuguesa.
Curiosamente, o dramaturgo escreveu Rei Lear, seguramente uma das suas peças mais famosas, durante uma quarentena, causada por uma peste que dizimou parte significativa da população de Londres. A peça era o tema da próxima sessão do seminário Entre o Fulgor e o Furor: Ler William Shakespeare, que Ana Luísa Amaral vinha orientando desde janeiro no Teatro Nacional D. Maria II. Como tantas outras atividades culturais, está suspenso, a aguardar a altura certa para ser retomado.
Por estes dias, também se tem rodeado de bons policiais, outra das suas leituras preferidas. Começou há pouco tempo A Menina na Floresta, da sueca Camilla Läckberg, o último romance da série Fjällbacka, protagonizada pelos inspetor Patrik Hedström e a escritora Erica Falck. Aos enigmas do presente contrapõe os enigmas da boa literatura.