Manuel Amado é arquiteto mas passou a vida a namorar com o desenho, a pintura e o teatro. E já são 77 anos mais uns meses, quase sempre em casas lindas de morrer, boas para pintar e mostrar.
A primeira era dos seus avós paternos, uma grande casa do Século XVIII que é hoje o Museu da Cidade, em Lisboa. Seguiram-se umas quantas mais, se incluirmos as dos amigos e conhecidos, onde Manuel-o-pintor raramente resistiu a sacar dos pincéis e tintas para reproduzir o que via.
Sempre gostou particularmente de casas por onde passaram muitas pessoas. Casas com memória e histórias com gente dentro. “Por esta, que pertence à família Alarcão, e fica perto de Coimbra, passou (e ainda passa) este mundo e o outro”, diz a sua mulher, Teresa, sobre a casa onde Manuel Amado pintou o quarto do divã verde que agora todos procuram.
É um quadro de 81×100 cm, um óleo sobre tela (ele só pinta assim) da série A casa visitada, vários quadros pintados nessa tal casa dos Alarcão. É de 1991 e foi pela primeira vez exposto em maio de 1992, na Galeria Nasoni, em Lisboa. Teresa adorava-o e nunca mais o viu. “Neste momento, é o único de que não sei o paradeiro.”
Há uns dias, o filho mais velho de ambos, Rodrigo, fez um apelo no Facebook, confessando que qualquer ajuda é bem-vinda. E logo muitos amigos partilharam o seu post, alguns a responder com confissões de amor à arte de Manuel Amado. “Não me importava nada que fosse meu… não sendo, partilho!”, “Que bonito! Tenho pena de não ser meu…”.
A busca teve início quando no Museu Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, se começou a organizar a exposição, comissariada por Catarina Alfaro. Foi a própria Paula Rego, que conhece bem e sempre gostou da obra de Manuel Amado, quem escolheu os 26 quadros. O pintor não interferiu, deu-lhe inteira liberdade.
A exposição é inaugurada a 18 de maio, e para O Divã Verde poder ser incluído terá de aparecer até ao final de abril. Com ou sem ele, é uma boa oportunidade para ver a obra de Manuel Amado que também podemos rever na exposição coletiva As Casas na Coleção do CAM, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.