Chama-se Leonardo o barco intervencionado por Vhils e a sua equipa durante a quinta edição do festival de arte pública Walk & Talk, em São Miguel, nos Açores.
Ao fim de cinco dias, o velhinho bote de madeira com 12 metros, que já tinha o abate como destino e o casco cheio de buracos, ganhou nova vida dentro de um estaleiro virado para o mar, em Rabo de Peixe. Diz quem o conheceu ao serviço da pesca que Leonardo já terá perto de 50 anos, que já pertenceu a todos os cabos do mar da vila e que já esteve pintado de várias cores. Agora, é verde água e azul, cores que Vhils quis deixar, quando trabalhou a madeira do casco, de forma a fazer sobressair, por entre formas geométricas e letras, a camada que existe para lá da tinta. No centro, construiu-se uma espécie de cabine, feita com portas e madeiras recolhidas em Rabo de Peixe e na Ribeira Grande – numa delas, reconhece-se o rosto do Sr. Bonança, o mais antigo pescador de Rabo de Peixe, e que Vhils já deixou cravado, em 2013, numa parede ali perto, na terceira edição do Walk & Talk. Do outro lado, está parte de outro dos retratos que o artista fez nessa altura e também um olho, em grande plano. Resgatado ao porto da vila, voltou depois ao mesmo lugar, com a ajuda de uma empilhadora-reboque e uma enorme grua. É ali que ficará, enquanto não se decidir dar-lhe outra morada. “Gostava de o tirar de contexto e de o pôr no meio de uma floresta”, revela Alexandre Farto. Até ver, Leonardo não sairá do porto – e será testemunha diária das brincadeiras das crianças que por ali correm e arriscam mergulhos do cais.