1- Mestre sala
Alfreld Hitchcock Apresenta
Série 1
A música do jingle inicial é tão inesquecível quanto as próprias apresentações sempre sarcásticas de Alfred Hitchcock com o seu rotundo perfil. Foi há cinquenta anos, no tempo da televisão a preto e branco, mas mesmo sendo pequenos episódios, muitos deles nem realizados pelo mestre do suspense (ele sobretudo produzia, apresentava e dava-lhes o tom), a série Hitchcock Apresenta continua uma referência televisiva ainda não superada por qualquer outra produção televisiva -pelos menos, em fama e carisma. Na série que “trouxe o crime de volta à casa onde pertence”, pode nem haver morto, nem cadáveres enterrados na cave, nem gangsters vingativos, mas há sempre a ironia maliciosa e o humor negro de Hitchocok. Lançado agora em três caixas, a série 1, contém 39 episódios, interpretados por estrelas emprestadas ao pequeno ecrã: Charles Bronson, Cloris Leachman, Green Joanne Woodward, entre outros.
2- Lubitsch toca sempre duas vezes
Uma Mulher para Dois
A 8ª Mulher do Barba Azul
Surpreendente esta dupla edição destes dois filmes do também tão surpreendente e pouco convencional realizador alemão, que passou do mudo ao sonoro e se “hollywoodizou” (ainda num sentido pouco industrial) em 1922. Fez musicais e comédias sempre um pouco insólitas. Estas duas comédias, ambas dos anos 30, que em boa hora chegam ao mercado dos DVD, tem o duplo toque Lubitsch: os diálogos sarcásticos e as situações bizarras. No primeiro, conta-se a história de uma mulher ( Miriam Hopkins) com dois namorados (Gary Cooper e Fredirc March) e no segundo, as desventuras de uma milionário (Gary Cooper, outra vez) ao estilo Henrique VIII, que não consegue manter-se casado.
3- Ainda a surfar na vaga
Os Juncos Silvestres
O Segredo do Amor
Não Dou Beijos
A Minha Estação Preferida
André Téchiné
André Téchiné é mais um dos filhotes da geração Cahiers du Cinema, grande procriadora de realizadores franceses. E já dono de uma carreira de tão longa duração que já se tornou avô de uma espécie de pós-nova vaga. Os filmes que agora se editam, dos anos 80 e 90, detém a marca lírica e intimista, sempre em torno da complexidade emocional que desde cedo etiquetaram a sua obra. Entre os quatro DVD está, porventura, o seu filme mais marcante dos últimos tempos: A Minha Estação Preferida, com a participação da cada vez mais bela Caterine Deneuve e do eterno Daniel Auteuil
4- A arte aos seus olhos
Caixa: Arte & Artistas
Diz-se que um país sem cinema é um país sem memória. Por isso aqui fica esta edição maciça e sem precedentes de 11 documentários todos eles dedicados a artistas plásticos, todos eles de autoria de realizadores portugueses. É uma espécie de fixação da memória tão preciosa do que pode ser efémero, dos processos criativos, dos comentários, das obsessões e dos interiores das obras de artistas tão díspares quanto Lourdes Castro (Pelas Sombras, de Catarina Mourão), Pedro Calapez (Trabalhos do Olhar, de Luís Miguel Correia), Ângelo de Sousa (Tudo o que Sou Capaz, de Jorge Silva Melo), Joana Vasconcelos (Coração independente, de Joana Cunha Ferreira) ou até o movimento de carácter humorístico-perfomativo, Homeostética, que surgiu em Lisboa nos anos 80 ,constituído por Pedro Proença, Manuel João Vieira e Xana, entre outros, realizado por Bruno de Almeida.
5- Ruiz AC (antes de Camilo)
Caixas: A Consagração e Raridades
Raúl Ruiz
Não podia ser mais oportuna a edição destas caixas do chileno exilado em Paris mas que também passa longos exílios voluntários em Portugal. Foi o que aconteceu recentemente nos meses de rodagem do mais ciclópico e fora do baralho de todos os seus filmes, sempre desavindos e improváveis: a adaptação da novela camiliana os Mistérios de Lisboa, na sua versão curta de quatro horas em meia para cinema e longa de seis horas para televisão. Em A Consagração podem encontrar-se os seus filmes mais famosos como Klimt (2006), Genealogias de um crime (1996) ou o Tempo Re-encontrado (1999). Raridades, contem três obras mais esquecidas, com a particularide de serem todas rodadas em Portugal e com produção de Paulo Branco
6- O senhor leão
Caixa: Werner Schroeter
Werner Schroeter
Recentemente falecido em Abril de 2010, Schroeter é considerado um dos mais importantes cineastas alemães do pós-guerra. Ainda assim foi em Veneza que foi galardoado com “leões”, os prémios do festival, nomeadamente o leão de ouro, o especial de júri e o carreira. A caixa contém Esta Noite, Duas e o estranho e especial O Rei das Rosas, a história de uma mãe e de um filho que habitam um inquietante roseiral, onde os espinhos coexistem com o perfume.
7- Sem força da gravidade
A dança
Frederick Wiseman
O olhar insistente, dissecador e paciente de Wiseman, um dos maiores documentaristas vivos, desta vez, focou-se na companhia de bailado da Opera de Paris, uma das mais conceituadas do mundo. O resultado é este documentário avassalador que mais do que nos dar a conhecer os bastidores de uma companhia, revela-nos os interiores daquilo que nunca se poderá explicar por palavras. Entre as reuniões burocráticas, os empregados de limpeza, os ensaios, e um epicurista no topo do edifício, a insustentável leveza dos gestos que acompanham a música. Há sequências únicas, de uma beleza rara, boas para fazer vários rewinds no leitor de DVD. Para ver, rever e ouvir.
8- Estes romenos são loucos
Histórias da Idade de Ouro
Cristian Mungiu
Todos os olhos cinematográficos do mundo continuam postos nos filmes romenos. É um milagre como uma cinematografia arrasada pela demência do regime de Ceausescu pôde em poucos anos revitalizar-se e dar nas vistas em tão pouco tempo e em tantos festivais internacionais. Esta colectânea de pequenas curtas humorísticas de realizadores (às vezes com mais comicidade outras com alguma amargura) são outra lição, até para os portugueses, pela notável capacidade de os romenos se rirem de si próprios e de, sobretudo, não se levarem demasiado a sério. Como é que os romenos sobreviveram aos últimos 15 do ditador (os piores da história da Roménia)? “Através do riso e do absurdo”.
9- Só fachada
Ruínas
Manuel Mozos
Uma simplicidade aparente, mas uma complexidade que faz pensar que este premiado documentário é uma metáfora de um país que muita vez tem muito fora e pouco dentro. E no entanto, estas ruínas impecavelmente filmadas por Mozos já tiveram o seu tempo, e o filme elege como personagens estes edifícios obsoletos, esquecidos, corroídos como cáries dentárias, acompanhados por fragmentos de textos, às vezes desconexos, mas que deixam pairar no ar as memórias, os fantasmas e as razões de um tempo quem em tempo fez sentido.
10- Sacudir a poeira
O Baile
Ettore Scola
Scola fez escola com este filme, que se tornou um clássico de uma coreografia sem palavras, que com uma fluidez inimitável, faz transitar o tempo ao longo de 50 anos, dentro do mesmo salão de baile, em Paris. Sem necessidade de palavras, este multi-premiado filme é um exemplo radical do “show, don’t tell” mas com muita poesia e música à mistura. Passam modas, desfilam regimes, propagam-se culturas, apagam-se tendências… mas o homem, esse estranho ser – pequeno e dançarino – continua a bailar. Até ao fim do mundo.
11- A vida comanda o sonho
Origem
De Cristopher Nolan
O conceito Blockbuster- investir milhões para gerar biliões – também pode transportar em si alguma complexidade e uma criatividade rebuscada. É o que prova aquele que é considerado a melhor das obras do realizador de Batman ou Insónia. Num meio termo entre Matrix e Avatar, Origem é um thriller do subconscinete, em que Leonard Di Caprio pratica uma espécie de espionagem cerebral – o que potencia imensos efeitos plasticamente dúbios e distorcidos, em camadas de dimensões confluentes. Di Caprio já não sabe onde está a realidade e o sonho. O espetador também não.
12- Valsa a mil tempos
24 City
De Jia Zhang Ke
Um dos mais extraordinários realizadores dos nossos dias regressa à China pós-revolucionária, depois de Natureza Morta, em que expunha um país que avançava como uma valsa a três tempos, mas em que os passos se atropelavam e pisavam. Neste híbrido entre o documentário e a ficção, Jia Zhang Ke mostra uma China a mil tempos. A partir dos depoimentos (reais ou interpretados por atores) de antigos trabalhadores de uma fábrica de munições que se converterá num condomínio de luxo, revela-se um capitalismo em perpétua vigília, num país em eterno estado de work in progress. Sendo que “progress” não deve necessariamente ser traduzido à letra.
13- Os verdadeiros Strumphs
Avatar
James Cameron
O filme mais falado, mais anunciado e que mais expectativas gerou nesta edição dos Óscares, teve entrada de leão e saída de sendeiro. Mas de expectativas goradas está a história do cinema cheia e a aposta da vida de Cameron é definitivamente um marco. Uma obra de fusão, em que se conjuga a ficção científica, o pacifismo ecológico, um regresso às histórias de aventuras espaciais, algum fantasismo à Disney, uma história que está algures entre a Pocahontas e o Dança com Lobos, as mais extraordinárias criaturas azuis e paisagens aquosas e ainda a tecnologia 3D mais avançada de sempre. Impossível não ver.
14- Pobrezinhos mas alegrinhos
Aniki Bóbó
Manoel de Oliveira
Restaurada e remasterizada, a primeiro longa metragem do nosso mestre centenário, nas vésperas do seu 103º aniversário, finalmente disponível em DVD: O célebre Carlitos, o Eduardinho e a Teresinha, agora com mais definição. Apesar do seu estilo naif, ainda muito apegado às tendências neo-realistas (por mais que Oliveira lhe retire a ideologia), o filme é definitivamente um clássico do cinema português.
15- Tragédia sem coro
Vencer
Marco Bellochio
Às vezes é nos filmes que cristalizam alguns passados que melhor se reconhecem os tiques dos nossos presentes. À parte de alguma debilidade no argumento, este biopic do Duce, no auge da euforia fascista, através dos olhos de uma sua mulher, amante renegada e internada num hospício, mostra a tragédia do fascismo italiano – em que o coro era amestrado e os restantes protagonistas arredados de cena. É que não há melhor caricatura de Mussolini do que o próprio Mussolini.