É uma espécie de Alexandra Solnado, só que não tem nada a ver. Arlen Faber, a personagem do filme de John Hindman, é um dos mais famosos escritores dos Estados Unidos. Tudo graças ao seu livro Eu e Deus, onde ‘transcreve’ as suas conversas com o além, em tom de pergunta-resposta. O seu sucesso é tal que, sozinho, detém 10 por cento do mercado de Deus (uma subsecção dos livros de auto-ajuda). Contudo, o homem contrasta em absoluto com o escritor, ao ponto de alguém lhe dizer: “Até pode ter escrito Eu e Deus, mas nunca o leu”. É assim elitista, mal-encarado, rabugento complexado, neurótico e quase autista. Esconde-se no seu mundo, salvaguardado das pessoas. Até cita Sartre ao carteiro, que descobre a sua identidade, ‘o inferno existe, o inferno são os outros’.
O inferno dos outros é Arlen Faber, personagem brilhantemente interpretada por Jeff Daniels, com um potencial cómico incrível. Aliás, o guião do próprio John Hindman, é um fabuloso exercício do género comédia-romântica. Há mais personagens centrais: a fisioterapeuta pelo qual ele se apaixona e o jovem alfarrabista com o qual ele estabelece o mais estranho negócio: dá-lhe livros em troca de respostas. A rábula à auto-ajuda é tal que ele próprio quando se apaixona, aparece a ler o livro: Como fazer que ela caia a seus pés. Não sendo uma obra-prima é uma comédia romântica que se vê com prazer, e que não termina com um beijo, mas sim com um aperto-de-mão. Vamos começar outra vez?
