Ao ouvir o ronco dos motores de blindados, cerca das 3 e 30 da madrugada de 25 de abril de 1974, Natércia Maia correu a espreitar pelas frestas de estores postos para baixo em janelas da sua casa, no centro de Santarém. Tinha de ser assim porque lá por fora andavam uns «indivíduos estranhos», leia-se agentes da polícia política do regime, a PIDE/DGS. Mas a coluna comandada pelo seu marido, Fernando Salgueiro Maia, capitão de 29 anos, saía mesmo da Escola Prática de Cavalaria (EPC), na capital do Ribatejo, com destino a Lisboa e ao objetivo de derrubar a ditadura do Estado Novo, velha de quase cinco décadas.
Horas antes, ao ir para o quartel, Fernando disse a Natércia: «É capaz de ser hoje. Está atenta às rádios.» Deu-lhe conta das senhas para o arranque do golpe.