“Beber dois litros de água por dia nem sabe o bem que lhe fazia” foi apregoado por tudo e todos nos últimos anos, entre dietas radicais e detoxs de todos os estilos – mas, como em tudo, o que é demais… não presta.
É verdade que a desidratação é um obstáculo para o nosso desempenho – por exemplo, entre os atletas pode causar fadiga e resistência na produção do suco digestivo, como atestava a Frontiers in Physiology, em 2018; já no comum dos mortais, sabe-se que interfere tanto no humor como na capacidade de concentração.
Sabemos que a água é barata e saudável e que bebê-la é uma maneira eficaz de a maioria das pessoas se manter hidratada. A Academia Nacional de Medicina tem vindo mesmo a recomendar que homens e mulheres adultos bebam pelo menos 1, 5 a 2 litros por dia, respetivamente – mas o que a investigação está agora a desvendar é que beber grandes quantidades de água de manhã à noite não se comprova ser a maneira mais eficiente de atender aos requisitos de hidratação do nosso organismo.
“Quando bebemos água e, de duas a duas horas vamos à casa de banho e a urina está muito clara, isso significa que não está a surtir o efeito desejado”, diz David Nieman, professor de saúde pública e diretor do Laboratório de Desempenho Humano no Campus de Pesquisa da Carolina do Norte, citado pela revista Time. Segundo Nieman, a água ingerida assim, sem ser acompanhada por alimentos, tem tendência a simplesmente deslizar através do sistema digestivo. “E não há virtude alguma nesse tipo de consumo”, avaliza.
De facto, há mais quem nos tenha andando a avisar desta super-hidratação – como a Cleveland Clinic – e outras investigações recentes, que também apoiam a alegação de Niemen de que beber muita água não é a melhor maneira de nos mantermos hidratados. Por exemplo, para o estudo de 2015 no American Journal of Clinical Nutrition, os cientistas resolveram comparar os efeitos a curto prazo de mais de uma dúzia de bebidas diferentes. Com base na urina recolhida dos voluntários do estudo, a investigação concluía que uma série de outras bebidas – leite, chá e até sumo de laranja… – eram mais hidratantes do que a água pura. A razão? Parece que há vários elementos em cada bebida que afetam a quantidade de água que o corpo retém – como os aminoácidos, as gorduras e os minerais. E é isso que ajuda a manter melhores níveis de hidratação.
“Quem está a beber garrafas e garrafas de água entre as refeições, sem comida, provavelmente está a deitar isso tudo fora de seguida, quando for à casa de banho”, resume Nieman, sublinhando ainda que a ideia de que isso ajuda a desintoxicar o corpo é uma meia-verdade: embora a urina transporte subprodutos químicos e os deite fora, não é por beber muita água com o estômago vazio que melhora esse processo de limpeza, insiste.
O pior? É que em alguns casos, raros é certo, o consumo excessivo de água pode até ser prejudicial. “Por exemplo, quem faz exercício horas a fio e só bebe água pode libertar demasiado sódio na urina, o que leva a um desequilíbrio nos níveis do corpo – sendo que precisamos de uma grande quantidade daquele mineral no sangue e no líquido que circunda as células.
O segredo para evitar tudo isto, insiste Nieman, é bem mais simples do que parece: o truque é beber imediatamente antes ou durante uma refeição: “são os aminoácidos, gorduras, vitaminas ou minerais que ajudam o corpo a absorver mais água.” Além disso, há outras opções muito boas, como as bebidas com leite ou os sumos de fruta. “A água é boa para nós, mas também nos podemos afogar. É isso que é preciso evitar”, remata aquele investigador.