O ex-primeiro-ministro garante ao PS que se precisar do apoio do PSD para aprovar medidas que considere essenciais deve devolver a voz ao povo. Ou seja, que devem ser realizadas eleições.
Passos Coelho, no seu discurso, hoje, no Parlamento, nunca se dirigiu a António Costa como primeiro-ministro. Chamou-lhe “chefe de Governo”, alinhando com Paulo Portas (que discursou durante a manhã) e Telmo Correia, do CDS. O cerco da direita ao governo do PS ficou manifesto nos debates, com os representantes do PSD e do CDS a recusarem legitimidade ao novo primeiro-ministro. “Senhor primeiro-ministro não eleito do governo de Portugal”, foi a expressão usada por Telmo Correia para se dirigir a António Costa, acompanhada por enorme sururu do plenário e protestos das bancadas de esquerda.
Passos Coelho considerou uma “audácia” a iniciativa de formar um governo com os partidos perdedores das eleições mas reconheceu tratar-se de um exercício “democrático”. Para si, para o PSD e para a oposição de Direita escolheu o “o papel de reserva e de alternativa de governo”, tendo deixado claro que o PS não deve contar com o seu partido para nenhuma medida que queira aprovar. “Se precisarem de apoio para chegar a um resultado essencial, devolvam a palavra ao povo”, disse, no final da sua intervenção, aplaudida de pé pelos deputados do PSD e do CDS.
Com o tom beligerante que lhe é reconhecido, Telmo Correia avisou na sua intervenção: “Vieram para mudar a página. E ao mesmo tempo querem a nossa colaboração? Não, desenganem-se. Escolheram os vossos compagnons de route. Aquilo que podemos é desejar-vos boa viagem e que não haja acidentes, porque os vossos acidentes quem paga são os portugueses”. E acrescentou: “E já agora, que a viagem seja breve”.
O parlamentar da bancada popular usou ainda uma imagem para ilustrar a formação do governo, lembrando um discurso de António Costa, na Assembleia da República, em que descreveu o CDS “como uma espécie de banquinho que o PSD arranja para chegar ao poder”. Fazendo uso da mesma metáfora, Telmo Correia afirmou que o governo estava agora assente em dois banquinhos, “um deles com uma perna falsa, e o primeiro-ministro de agora, mais pequeno do que o da altura, numa jigajoga a ver se se consegue equilibrar nos dois”.
Referindo que António Costa não teve a coragem de pedir uma moção de confiança ao Parlamento, Telmo Correia garantiu: “Nós não seremos responsabilizados pelos erros que se preparam para cometer”. Estava assim justificada a apresentação da moção de rejeição apresentada pelos partidos de direita, iniciativa através da qual pretendem separar as águas.
A moção apresentada pelo PSD e pelo CDS será votada no final da sessão plenária e espera-se que se seja chumbada pela maioria de esquerda.