É SÓ IR E VOLTAR…
Temos por cá o FMI, BCE e CE. E os Partidos Políticos à zaragata como se o “doente” não estivesse a morrer necessitando de um trabalho conjunto à sua volta.
Esta é uma das razões porque os Manéis cá do sítio e os pensadores “das coisas da vida” já estão cansados de ir a locais de voto cumprir uma obrigação cívica que deixou de o ser quando os candidatos a lugares de chefia (pois o que querem é uma chefia de qualquer coisa que dê mais uns dinheirinhos e alguma presunção) se transformaram em ratos supostamente espertos – não disse inteligentes! – que se atropelam uns aos outros para subir ao armário mais alto e filar o queijo de S. Jorge que por lá se encontra guardado. Por vezes querem mesmo a segunda prateleira mais alta do tal armário…talvez porque o primeiro já está ocupado, embora com um silêncio arrasador.
É por isso, e por muito mais, que em casa da senhora Deolinda se discutem estas coisas da política em voz alta e, por vezes, com muito boa disposição.
Ao chegar a casa, depois de um trabalho de 9 ou mais horas, o senhor Luís, marido da senhora cujo nome atrás referi, lava as mãos dignas com alguma minúcia e senta-se no lugar da mesa que sempre lhe esteve reservado. A sopa e o pão, partidos com o carinho que a mulher sempre reservou para o seu homem, já se encontram na sua frente. A senhora Deolinda acompanha-o na refeição frugal e boa ( – Gosto destas sopas de feijão, couve e batata. Fazem um homem forte e pronto para qualquer trabalho – diz o marido, deliciado e confortado.).
Quando entende que a hora de “soltar a língua” já chegou, Deolinda pergunta: – O que pensas desta ajuda que andam a dar ao País?
O senhor Luís, suspendendo a colher, olha o vazio e abana a cabeça: – enquanto houver preguiçosos não há ajuda que nos valha! Repara, mulher: – Lá por Lisboa, naquela Assembleia que aparece bastas vezes na televisão, há tanta gente que não consigo perceber o que fazem todo o dia. Oiço dizer que se levantam várias vezes, vão tomar café, conversam nos corredores…Aqueles homens e mulheres acabam por ficar inválidos. Lembras-te do Ti José, lá da Rua dos Calceteiros? Nunca mexeu um dedo para fazer fosse o que fosse de útil; viveu sempre à custa da mãe; aos quarenta e poucos anos já estava entrevadinho.
– Mas aquilo são pessoas ricas. Hão-de ter médicos que os tratem a modos quando sentirem que o corpo se lhes prende, não?
– Deixa-te disso, mulher, para a preguiça não há remédios que lhe valham! Só se aquelas pessoas que vieram lá de fora, com aquele ar muito zangado e as pastas na mão cheias de papéis para cobrar dívidas aos caloteiros, correrem a pau com os que não querem trabalhar e ponham a governar este País gente honrada. Vão ter muito que procurar, mas hão-de achar meia dúzia… E, digo-te, esta meia dúzia dá e chega para limpar a sujeira que já tresanda e começar a levantar este povo que era de boa cepa e que se perdeu entre subsídios e dádivas de tudo e para tudo. De nós nem se vão lembrar. Somos honestos, não temos fiados nem na loja, comemos o que temos e nem gostamos de luxos. Eles nem sabem que existimos.
– Sabes aquela Dra. que diziam que era velha e não percebia nada de política? Aquele menino de mamã – do Partido de Sá Carneiro – convidou-a para o ajudar a ganhar as eleições. E ela virou-lhe as costas. Assim é que é. Também me disseram que o homem que levou consigo uns gravadores que não eram seus lidera uma lista qualquer…Já vês, Deolinda, que nada disto é a sério.
– Então não vamos a votos, desta vez?
– Claro que vamos. Então íamos perder o gosto de dizer aquelas palavrinhas verdadeiras que sempre combinamos escrever nos boletins de voto? Assim podemos dar umas boas gargalhadas quando os vizinhos nos contarem, escandalizados, que houve gente que disse horrores nos papéis que só pediam que se fizessem cruzes e escolhas.
– Tens razão, iremos a votos como quem vai a banhos; é só ir e voltar e fica tudo na mesma.
Dra. Maria da Conceição Brasil mcbrasil2005@hotmail.com
18/04/2011
DIA 17/04/2011