Pensamos sempre que as “coisas más” da vida só acontecem aos outros. Mesmo aqueles que não se consideram bafejados pela sorte, a quem nunca aconteceu nada de extraordinário ou digno de referência, nunca passaram da cepa torta, até se consideram vítimas de um destino inexorável; sim, também esses gostam de acreditar que a eles “isso não acontecerá”.
A lista de”coisas más” inclui tantas coisas… doenças, um roubo, um desastre de automóvel, um atentado terrorista, a queda de um avião… e poderiamos continuar a nossa lista. Mas esses infortúnios, estão muito longe de nos atingir. Todos os dias na TV, jornais, internet, recebemos imagens de desolação, pavor, ódio e violência. Se não é a guerra no Iraque, são os actos de terrorismo, os crimes em massa, os desastres naturais, como tremores de terra, inundações e ciclones, que destroem cidades inteiras, como agora acontece em diversas ilhas do Pacífico.
Será que foi sempre assim, e só agora nos apercebemos mais de tudo isto, por causa de uma tecnologia tão avançada que nos trás, até ao conforto do nosso lar, imagens reais, muitas delas no exacto momento que os factos estão acontecendo, a milhares de quilómetros de distância, ou ali mesmo, numa rua da cidade onde vivemos?
Então deveremos continuar a excluir-nos daquilo que consideramos ser “má fortuna” para alguns, apenas porque são pessoas que nem conhecemos, não vivem perto de nós, nem nos dizem respeito. E até tentamos arranjar mil e uma razões para explicar o porquê de tudo isso. Só assim podemos respirar fundo e pensar que calamidades dessas nunca acontecerão a nós. Será que somos diferentes daqueles que sofrem essa “má sorte” que a vida inesperadamente lhes traz. Seremos?
Acreditamos que o somos porque só então teremos a coragem de sair à rua, todos os dias, sem nos sentirmos cheios de incertezas, sem nos sentirmos ludibriados pelo destino ou impotentes face às adversidades; sem sentirmos medo. Estas são afinal as defesas que usamos para acreditar que connosco “isso” não acontecerá.