John e Gordon Javna são irmãos com algo em comum: sabem levar a vida a rir. No livro “A Vida é uma Anedota” (Lua de Papel, 2018) partem de um princípio muito salutar: não levar os nossos problemas demasiado a sério – por mais sérios que sejam. Os autores propõe-nos 100 anedotas divertidas com 100 lições de vida para refletir. Eis um excerto do livro com três delas, sobre superação, criatividade e auto-estima.

1. A FORÇA DO HÁBITO
“As cadeias do hábito costumam ser tão pequenas que não se sentem até serem tão fortes que não se conseguem quebrar.”
Samuel Johnson
Dois velhos piratas estavam sentados num bar, a conversar sobre as suas aventuras. “Então”, disse um dos piratas, “como é que arranjaste esse gancho de metal que tens em vez da mão?”
“Estávamos a saquear um navio mercante nas Índias Ocidentais, tive um duelo de espada com o comandante do navio e ele cortou‑me a mão.”
“Fantástico”, disse o primeiro pirata. “E como é que ficaste com essa perna de pau?”
“Estávamos a saquear uma escuna junto ao Haiti, e entrei em combate corpo a corpo com o comandante da escuna. Ele deu‑me com a espada com tanta força que me cortou a perna.”
“Incrível!”, disse o primeiro pirata. “E como é que ficaste com essa pala no olho?”
“Estava no convés do meu navio quando uma gaivota me cagou na cara.”
“E foi assim que perdeste o olho?”, perguntou o primeiro pirata.
“Bem, era o meu primeiro dia com o gancho.”
Lição de vida
Ninguém se adapta instantaneamente a grandes mudanças. É preciso tempo para nos habituarmos a novas condições e, inevitavelmente, cometeremos erros. Mas não temos de ser como o fulano do gancho. Se reconhecermos as mudanças quando elas estão a acontecer, podemos limitar os nossos erros, desenvolvendo novos
hábitos que se ajustem às novas condições. E, surpreendentemente, iremos concluir que não é preciso grande força de vontade para alterar um hábito – basta ter persistência.
Para lá da moral da história
A ideia de que são precisos 21 dias para criar um novo hábito é um mito. Um estudo de 2009 mostrou que, na verdade, levamos cerca de dois a oito meses para criar novos hábitos. O estudo também revelou que o sucesso na criação de um novo hábito depende sobretudo da consistência das repetições ao início, e não da quantidade de esforço. É só preciso insistir. E se se esquecer de vez em quando? Isso não parece prejudicar nada o seu avanço. Criar um novo hábito pode ser praticamente indolor e não provocar stress, desde que esteja disposto a fazer o esforço básico. Segundo Charles Duhigg, no livro “A Força do Hábito”, é um processo com três passos: 1. Criar uma deixa; 2. Escolher uma rotina; 3. Gozar a recompensa.
Passo 1: A deixa é algo que lhe diz para dar início ao processo. Funciona melhor se a acrescentar a uma parte habitual do seu quotidiano. Por exemplo, se quiser tomar vitaminas com regularidade, a deixa pode ser lavar os dentes. Diga a si próprio que, todas as manhãs, antes de lavar os dentes, tem de tomar vitaminas. Ou, se estiver a tentar ler mais, diga a si próprio que, quando se senta para comer o almoço todos os dias, tem de ler durante cinco minutos. A vantagem disto é que o ónus passa da força de vontade para um sistema de lembretes.
Passo 2: A rotina é a ação que constitui o novo hábito – tomar vitaminas, ou ler, nos exemplos anteriores. Conselho de especialista: comece com uma rotina o mais simples possível. Tome só uma vitamina ou leia só uma página. Quanto mais fácil for começar, melhor. Dê início às repetições, e preocupe‑se com a qualidade do esforço mais tarde. Em primeiro lugar, e acima de tudo, estabeleça a rotina na sua vida.
Passo 3: A recompensa é o benefício ou o resultado que quer alcançar. De início pode ser apenas a satisfação de cumprir o que resolveu fazer. Posteriormente, poderá desfrutar do benefício da própria ação – sentir‑se melhor por tomar vitaminas, o prazer de ler um bom romance, perder peso, etc.
A ciência demonstrou que estes passos funcionam mesmo. Basta fazer o esforço.
2. PRECISO DE UM EMPRÉSTIMO
“Não falhei. Encontrei apenas dez mil maneiras de não ter sucesso.”
Thomas Edison
Uma mulher rica entra num banco de Nova Iorque para pedir um empréstimo. Ela diz ao funcionário que vai de férias e precisa de um empréstimo de 5000 dólares. “Bem”, diz o bancário, “tem alguma coisa que possa servir de garantia?” “Sim, tenho”, disse a mulher. “Vou usar o meu Rolls Royce.” “Está a dizer‑me que vai dar um Rolls Royce que vale 250 mil dólares como garantia de um empréstimo de 5000?”, pergunta o bancário, espantado. A mulher faz que sim com a cabeça e passa‑lhe as chaves.
O bancário não acredita que ela esteja a falar a sério e pede a um colega que vá confirmar os seus documentos, para ter a certeza de que se trata mesmo da proprietária do carro. E de facto está tudo em ordem; portanto, o bancário estaciona o carro de luxo na garagem subterrânea do banco e passa‑lhe um cheque de 5000 dólares.
Duas semanas mais tarde a mulher volta das férias e vai imediatamente ao banco, onde paga o empréstimo de 5000 dólares – mais 15 dólares e 41 cêntimos em juros. O bancário recebe o dinheiro e, ao devolver‑lhe as chaves, diz: “Minha senhora, gostamos muito de a ter como cliente, mas estamos confusos. Investigámos e descobrimos que a senhora é multimilionária. Então para que é que precisava de pedir 5000 dólares emprestados?”
A mulher sorri e responde: “Onde é que arranjava em Nova Iorque outro sítio para estacionar o carro, por duas semanas, sem que mo roubassem, só por 15 dólares e 41 cêntimos?”
Lição de vida
“Da maneira convencional, toda a gente consegue” era uma das lições favoritas do nosso pai. Ele insistia que há soluções para qualquer problema – muitas vezes soluções simples – que ninguém experimentou ainda. Portanto, se abordar a resolução de problemas com um espírito aberto, e sem preconceitos sobre como é que a solução devia ser, pode obter resultados absolutamente impressionantes.
Para lá da moral da história
Eis alguns truques para o ajudar a procurar soluções de forma criativa:
>> Envolva mais gente no problema. Há estudos que indicam que tendemos a ser mais criativos quando resolvemos os problemas dos outros em vez dos nossos. Imagine‑se a dar conselhos a um amigo com o mesmo problema.
>> Vire o problema do avesso. Olhe para ele de um ponto de vista completamente diferente. Tente, literalmente, virar o papel ao contrário ou estudar um objeto ou um plano de outro ângulo. Imagine que um resultado menor é na realidade o seu objetivo. Este tipo de raciocínio pode ajudá‑lo a detetar pormenores ou padrões que de outra forma lhe passariam ao lado, e isso pode ajudá‑lo a descobrir uma solução.
>> Estude o problema, não a solução. Leve o tempo necessário para realmente compreender o problema, e as soluções podem tornar‑ se mais claras. Como disse Albert Einstein: “Se tivesse uma hora para resolver um problema e a minha vida dependesse da resposta, passaria os primeiros 55 minutos a descobrir quais eram as perguntas que era preciso fazer. Porque, sabendo as perguntas corretas, poderia resolver o problema em menos
de cinco minutos.
>> Inverta o processo. Comece pela solução que tem esperança de encontrar e volte até ao ponto de partida, passo a passo. Segundo um especialista, “assim obriga o cérebro a pensar de uma forma diferente… o cérebro fica quase sempre mais ativo quando recebe novos estímulos e informações”.
>> E se tudo o resto falhar, pergunte a um miúdo. Se o problema estiver ao alcance da compreensão de uma criança, pergunte‑lhe como é que ela o iria resolver. Mesmo que a resposta não seja viável, o raciocínio não‑convencional da criança pode apontar para uma solução que não lhe teria ocorrido naturalmente.
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3. ESTÁ BEM ASSIM?
“O privilégio de uma vida é podermos ser quem somos.”
Joseph Campbell
Uma mulher de 40 e muitos anos sofre um ataque cardíaco e é levada para o hospital para uma cirurgia de emergência. Na mesa de operações tem uma experiência de quase morte – e vê Deus.
“Isto é o meu fim?”, pergunta. “Não, minha filha”, responde Deus. “Tens mais 37 de vida.”
A mulher recupera da cirurgia e, sabendo que ainda lhe resta tanto tempo de vida, resolve aproveitá‑lo ao máximo. Fica no hospital para fazer uma operação plástica, uma lipoaspiração e outra operação para encolher a barriga. Depois desta última, os médicos dão‑lhe alta do hospital. Ao sair, atravessa a rua, é atropelada por um camião e morre.
Ao chegar ao céu vê Deus e queixa‑se: “Disseste que eu tinha mais 37 anos de vida. Porque é que não me salvaste do camião?” “Oh, desculpa”, disse Deus. “Não te reconheci.”
Lição de vida
Haverá sempre defeitos que podemos criticar em nós – o nosso aspeto, a nossa inteligência, o nosso peso, os nossos maus hábitos, o nosso insucesso. Mas, a certa altura, temos de ser capazes de dizer “isto é quem eu sou”, e de apreciar a vida que nos foi dada. Podemos não ter tudo o que queremos, mas se tivermos coisas boas não devemos negligenciá‑las, mas sim tratá‑las com respeito.
Para lá da moral da história
É excessivamente autocrítico? Eis alguns conselhos para aprender a apreciar a pessoa que é:
>> Não tente “consertar‑se”. Se estiver a tentar consertar‑se, é porque pensa que está estragado. Isso é o oposto de aceitar‑se a si próprio.
>> Seja realista. Há coisas na sua vida que podem ser alteradas, mas outras – tais como a sua família e certos problemas de saúde – que não podem. Se estiver a tentar alterar o que não tem mudança possível, está condenado ao fracasso. E, quando fracassar, vai culpar‑se por não ter feito um esforço suficiente.
>> Ofereça‑se para ajudar outros. Uma coisa que todos compreendemos e apreciamos é o poder de uma mão amiga. Independentemente da imagem que tenha de si, saber que pode ajudar outros irá aumentar a sua autoconfiança.
>> Respeite a sua vida. Veja o que faz todos os dias, o que tem de fazer para sobreviver, e o quanto dedica a isso. Pode querer melhor para si no longo prazo, mas o amor‑próprio começa com o apreciar aquilo que já faz bem.