Lars Thomsen é Chief Futurist da Future Matters AG, sedeada em Zurich, uma consultora especializada na análise de tendências nas áreas da tecnologia, sociedade e economia. Para este ‘futurista’, o desenvolvimento do mercado dos veículos elétricos vai crescer mais rapidamente do que previsto por outras entidades. Conclusões que fazem parte de um estudo feito para a Juice Technology, um conhecido fabricante de carregadores para veículos elétricos.
Num estudo a que a Exame Informática teve acesso em primeira mão, Lars Thomsen prevê que a quota de marcado dos veículos elétricos (VE), que inclui automóveis 100% elétricos (BEV) e híbridos plug-in (PHEV), será superior à quota de mercado dos veículos com motores térmicos (gasolina e gasóleo) já na primeira metade do próximo ano. Valores referentes ao mercado europeu de veículos novos.
Segundo o mesmo estudo, 2025 representará o “ponto de inflexão”, o ano em que os veículos elétricos de “praticamente todos os segmentos e classes” vão tornar-se mais atrativos que os concorrentes com motores térmicos “em termos de economia e desempenho”, que levará à “eliminação progressiva” dos automóveis com motores tradicionais.
As razões apontadas para o sucesso dos VE resultam da “competição crescente”, que levará ao “decréscimo dos preços e a uma maior oferta de veículos no mercado”. Relativamente às limitações dos VE para quem não tem como carregar em casa, Lars Thomsen prevê que este problema será resolvido com o aumento da capacidade das baterias e da disponibilidade de carregadores em espaços comerciais e nos locais de trabalho. Para Thomsen os utilizadores de VE em meio urbano, que normalmente fazem poucos quilómetros por dia, “vão poder conduzir durante sete a 10 dias sem carregar e poderão recarregar a bateria em 30 minutos no parque de um centro comercial, do supermercado ou no local de trabalho”.
O efeito chinês
A chegada de veículos ‘made in China’ é yma das razões apontadas para o crescimento da concorrência do mercado. O estudo prevê que, até 2025, pelo menos seis marcas chinesas comercializem novos VE nos mercados da Europa e Estados Unidos. Veículos que deverão preços preços abaixo da média, forçando as marcas locais a responder. Ainda assim, a China deverá continuar a ser o maior mercado mundial de BEV até 2026.
Relativamente aos Estados Unidos, o plano do presidente Biden para promover os VE deverá fazer crescer rapidamente a rede de carregamento naquele país. O que, em conjunto com a entrada de novos modelos de pickups de marcas como a Ford, a Rivian e a Tesla, deverá levar a um crescimento rápido do mercado. A quota de VE nos EUA deverá ser de pelo menos 40% em 2025.
O declínio dos PHEV
Apesar de os plug-in serem importantes para o crescimento do mercado dos VE nos próximos anos, Lars Thomsen prevê que esta categoria de veículos terá uma vida limitada: “O sucesso dos PHEVs não vai durar muito pouco e o fim desta categoria já está à vista, pelo menos na Europa”. As razões apontadas para o declínio anunciado destes veículos são: consumos elevados, fim de vantagens fiscais e baixa taxa de carregamento da bateria destes veículos (vários estudos têm vindo a indicar que muitos utilizadores carregam poucas vezes as baterias dos PHEV, o que faz aumentar o consumo médio de combustível e as emissões de gases tóxicos). Por outro lado, os PHEV serão menos atraentes à medida que crescem as autonomias dos BEV e a rede de carregamento.
Tendências para o carregamento
O estudo de Lars Thomsen também enumera as tendências relativas ao carregamento. Na Europa, os carregadores de três fases e 11 kW estão a tornar-se os mais comuns. Uma solução que se apresenta como um bom equilíbrio entre velocidade de carregamento e custo de implementação, permitindo, por exemplo, o carregamento total de uma bateria de 80 kWh de capacidade durante a noite. Este tipo de carregadores será especialmente popular em garagens privadas, empresas e parques públicos de estabelecimentos comerciais.
Relativamente ao carregamento rápido, o sistema CCS (Combined Charging System) com até 350 kW de potência está a tornar-se o standard ao longo das autoestradas europeias. Em espaços urbanos e vias secundárias, a potência mais comum será entre 50 a 100 kW. “Em 2024, praticamente todas estações de serviço em autoestradas na Europa oferecerão serviços de carregamento rápido”, adicionando “nestes carregadores, os preços do quilowatt hora (kWh) serão relativamente elevados, a não ser quando os utilizadores subscreverem serviços premium com um custo mensal”. Thomsen prevê ainda que se vão “formar entre três a cinco redes europeias que vão promover uma ligação de longa duração com os clientes, como acontece atualmente com as operadoras de telecomunicações”. Para este futurista, os dados relativos aos carregamentos, viagens e serviços adicionais (seguros, ofertas, cupões, etc.) serão de grande importância para os operadores deste mercado. Os valores dos tarifários do carregamento deverão variar muito de país para país, em consequência da forma como a energia é gerada nesses países.
No entanto, o carregamento em casa e no local de trabalho vai continuar a evoluir, o que significa que o carregamento dos VE nunca assentará na dependência total das estações de serviço. O estudo prevê novos tarifários para este tipo de carregamento, muito associados a uma gestão mais inteligente da energia disponível na rede. Incluindo modos de carregamento onde, por exemplo, a potência de carregamento poderá variar automaticamente ao longo do dia. O que, naturalmente, vai exigir a utilização de carregadores inteligentes que possam ser controlados pelo utilizador ou pelo fornecedor de energia.
Carregamento autónomo
A previsão mais futurista do estudo prende-se com o aparecimento dos carros autónomos: “com a chegada de veículos autónomos e semiautónomos, que serão capazes de visitar estações de carregamento locais (ou estacionamento, centros de lavagem, manutenção, etc.), espera-se que os postos de carregamento totalmente automatizados (equipados com robótica) apareçam a partir de 2025”. Ou seja, os utilizadores nem terão de se preocupar com o carregamento dos VE, já que estes serão capazes de procurar um carregador e carregarem a bateria de modo autónomo, sempre que não estejam a ser utilizados.