Desde 2009 que o Festival Todos tem contribuído, em Lisboa, para “a destruição de guetos territoriais associados à imigração, convidando os públicos ao convívio entre culturas de todo o mundo”, como se pode ler na sua apresentação. Depois de, desde 2021, ter atuado na periférica freguesia de Santa Clara, o Todos volta este ano ao bulício mais central da cidade. Arroios, com mais de 30 mil habitantes de cerca de 80 nacionalidades, é um grande desafio quando se pensa em aproximar comunidades imigrantes e lisboetas – até pela diversidade geográfica e social, numa freguesia que vai do Saldanha até à zona do Martim Moniz, passando pelo Campo Mártires da Pátria.
O diretor do festival, Miguel Abreu, sublinha que a comunidade brasileira é uma das que mais têm ocupado este bairro nos últimos anos, e isso reflete-se na programação de 2024. A estreia em Portugal da peça Macacos, de Clayton Nascimento, será um dos momentos altos (13 set, 21h; 14 set, 19h). Sozinho em palco, o ator parte da sua experiência pessoal e observação do mundo para nos falar de racismo. O espetáculo começou por ter 15 minutos quando estreou no Brasil, em 2016, ligado à frequência universitária do seu autor, e hoje pode ir até às três horas. Com vários prémios ganhos, tornou-se um caso de popularidade crescente. “Você é um fenómeno! Obrigada por ser brasileiro, tomara que você faça essa peça até ficar bem velhinho!”, gritou na plateia a atriz Fernanda Montenegro no fim de uma representação. “A existência desse espetáculo já é, por si, um statement sociopolítico”, diz Clayton Nascimento numa entrevista que pode ler na VISÃO desta semana. Mas destaque-se, também, a atuação de Leo Middea (14 set, 17h), carioca a viver em Arroios e que, em 2024, chegou à final do Festival da Canção – canta no edifício do Banco de Portugal neste sábado, 14, às 17h, depois da conversa com a socióloga portuguesa Sandra Mateus e a antropóloga social brasileira Aparecida Vilaça sobre “como imaginar uma cidade capaz de valorizar a diversidade e combater a desigualdade?”.
Essa é uma pergunta transversal a toda a programação, que tem muitos momentos (workshops, oficinas, palestras, encontros…) mais virados para os habitantes do bairro do que para o grande público. A grande marcha Olá Futuro, para todos, no domingo, dia 15, às 17h, entre o Jardim do Caracol e a Alameda D. Afonso Henriques, será o maior momento de encontros, simbolizando bem o espírito do festival ao juntar participantes do Bangladesh, do Brasil, do Chile, da China, do Paquistão e, claro, de Portugal, entre outras nacionalidades.
ALGUNS DESTAQUES
Arroios – Mesa Global > vários rerstaurantes > 12-15 set, qui-dom
“Gelsomina Dreams”, Compagnie Blucinque > Auditório Camões, R. Almirante Barroso, 25, A > 12 set, qui 20h30 > grátis
“Macacos”, de Clayton Nascimento > Espaço Escola de Mulheres, R. Alexandre Braga, 24 A > 13-14 set, sex 21h, sáb 19h > €3
Leo Middea Toca 3 Canções > Banco de Portugal, Av. Almirante Reis, 71 > 14 set, sáb 17h
“Taroo”, com Said Mouhssine > Alameda Dom Afonso Henriques > 14-15 set, sáb 16h, dom 17h > grátis
Malú Garcia > Alameda D. Afonso Henriques > 14 set, sáb 17h30 > grátis
“Muda”, Companhia Clara Andermatt > Escola Secundária de Camões, Pç. José Fontana > 14 set, 21h > grátis, por ordem de chegada
Festival Todos – Caminhada de Culturas > 12-15 set, qui-dom > Programação completa em festivaltodos.com