Na reabertura do MUDE – Museu do Design e da Moda, o protagonista é o edifício

Na reabertura do MUDE – Museu do Design e da Moda, o protagonista é o edifício

Obras de Santa Engrácia. Essa clássica metáfora passou pela cabeça de muitos quando ouviam falar da requalificação do Museu do Design e da Moda – MUDE, em Lisboa, prevista para dois anos e estendida por oito. Mas agora não se esconde o maravilhamento com o resultado: o passado foi reaproveitado para o presente, na caixa arquitetónica aninhada na Baixa pombalina, que teve uma primeira intervenção pela mão de Tertuliano Marques (1883-1942), nas décadas de 20 e 30 do século passado.

Luís Saraiva é o arquiteto responsável pela nova reencarnação deste MUDE, que mantém o perfil “alternativo” das veias arquitetónicas à mostra, uma moldura industrial com tetos descarnados, que ganhou amplitude e consciência sustentável.

“Começa uma nova etapa do MUDE, em continuidade com todo o trabalho feito”, aponta Bárbara Coutinho. A diretora, que viveu diariamente esta obra, explica à VISÃO como o “estaleiro de obras” em que viveram foi, também, um “local de projeto e um atelier”, com partilha de ideias e de saberes em rede, de afirmação de sustentabilidade e de reaproveitamentos dos materiais existentes, assim como de debate histórico e de questionamento que espelham as preocupações atuais – e é isso, também, o design. “Esta é uma viagem temporal, que permite conhecer como o edifício é, de facto, uma testemunha da evolução da arquitetura e da engenharia, na perspetiva do design, e como foi sendo um espelho da História mais recente de Portugal.”

Esta é uma viagem temporal, que permite conhecer como o edifício é, de facto, uma testemunha da evolução da arquitetura e da engenharia, na perspetiva do design

Bárbara coutinho, diretora do MUDE

Em Edifício em Exposição, apresentam-se 16 instalações que cruzam maquetes, mobiliário, material documental e evocação das ferramentas usadas na recuperação do antigo Banco Nacional Ultramarino (BNU). Omnipresentes são as 88 fotografias captadas por Luísa Sequeira, que retratam alguns dos 300 a 400 trabalhadores de muitas nacionalidades envolvidos nesta obra. É também um gesto político? “Todos os gestos da nossa vida são políticos, e a ação do museu também tem essa dimensão. Os museus são baluartes da democracia, permitem uma consolidação do pensamento e da cidadania, que vai muito para lá das suas portas”, sublinha Bárbara Coutinho. “Estas pessoas, com o seu saber concreto, materializaram as ideias gizadas pelos arquitetos, engenheiros e designers. E há uma chamada de atenção para a perda deste know-how; eles têm de ser dignificados, reconhecidos, fomentados.”

A Biblioteca tem volumes diversos, como tomos monográficos dedicados a Siza Vieira ou a João Paciência, Charlotte Perriand ou Vivienne Westwood, séries icónicas designadas à história do design, catálogos de leiloeiras, estudos sobre o artesanato português ou coleções das revistas “Monocle” e “Egoísta”

Passado com futuro

O grande protagonista desta reabertura do MUDE é o edifício, a sua respiração nova. Há espaços particularmente conseguidos: o terraço, com vista de 360 graus sobre o casario pombalino e uma perspetiva intimista sobre o Arco da Rua Augusta; a reconstituição das salas de reunião dos banqueiros, traduzidas em madeiras nobres e de inspiração francesa; a biblioteca, já a funcionar, forrada com painéis de madeiras, debruada a folha de ouro e encimada por três lustres gigantes, com uma mesa comunitária em pinho. Também o pórtico de azulejos de Querubim Lapa, resgatado da icónica loja Rampa, agora a dar passagem para o serviço educativo, tem uma presença marcante. Já o auditório pensado por Daciano da Costa, em 1991, retomou a cor azul original.

A reconstituição das salas de reunião dos banqueiros, traduzidas em madeiras nobres e de inspiração francesa

A História nunca ficou esquecida e foi, mesmo, meticulosamente recuperada: vejam-se os murais concebidos para este edifício em 1964, como O Desenvolvimento Ultramarino e a Metrópole, de Jaime Martins Barata (1889-1970), ou Epopeia dos Descobrimentos Marítimos, de Guilherme Camarinha (1913-1994), a caminho dos antigos cofres, situados na cave. “Não devemos negar o passado, tapando-o. Há que mostrá-lo, contextualizado, e dar voz a tudo”, diz a diretora.

Depois do verão, também funcionarão, neste edifício da Rua Augusta, uma cafetaria (casulo intimista de madeiras, criado pelo arquiteto e designer António Garcia), uma livraria e um restaurante (espaço nobre, dominado pelo imenso painel de azulejaria e por uma lareira de cobre) – e as reservas do museu passarão a ser visitáveis.

O terraço, com vista de 360 graus sobre o casario pombalino e uma perspetiva intimista sobre o Arco da Rua Augusta

A caminho, vem uma nova exposição de longa duração, com o acervo do MUDE. E recorde-se que a instituição tem 17 mil tesouros guardados (incluindo 1 362 peças integradas na denominada Coleção Francisco Capelo), resultantes de doações e de depósitos de longa duração, distribuídos por 15 coleções – que se espera que sejam aumentadas ainda em 2024.

MUDE > R. Augusta, 24, Lisboa > T. 21 817 1892 > ter-qui e dom 10h-19h, sex-sáb 10h-21h (abr-set), ter-qui e dom 10h-18h, sex-sáb 10h-20h (out-mar) > €11 (visita guiada + €2), €5,50 (13-25 anos e mais de 65 anos), grátis sex 17h-20h/21h e dom 10h-14h

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