Na Inglaterra oitocentista, viveu um português, de nome Charles Augustus Howell. Negociante de arte, figura influente nas elites londrinas, simpatizante do movimento Rosa Branca de outros grupos subversivos e mestre chantagista. A sua figura serviu de inspiração para um conto de Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle. E o seu nome está inscrito na história dos pré-rafaelitas, sobretudo devido à sua ligação com Dante Gabriel Rossetti e à sua companheira, Lizzie Siddal, cuja exumação, por si patrocinada, escandalizou o mundo na época.
Mesmo não havendo uma biografia completa, a personagem é tão rica que, por si só, justificaria vários filmes. Rodrigo Areias fez um, fugindo à sua zona de conforto, contando com um guião exemplar de Eduardo Brito (o realizador de A Sibila) e uma produção da Leopardo Filmes, de Paulo Branco, que permitiu uma escala maior daquela com que Rodrigo está habituado a trabalhar.
Em muitos aspetos, O Pior Homem de Londres é um filme inglês. Passa-se em Londres, o elenco é multinacional e é falado maioritariamente em língua inglesa. A própria história não é portuguesa, à parte a coincidência de Howell ter nascido no Porto e viver com a frustração de não ser considerado um verdadeiro britânico. O enredo desenha-se como um policial atípico de época, em que o que mais nos interessa é sempre desvendar a misteriosa personagem – apreciar o seu taticismo, a falta de escrúpulos, mas também as suas contradições. É um chantagista de extremo bom gosto e ajuda grandes causas revolucionárias.
Para este desenho, é essencial, mais uma vez, a interpretação convincente e rigorosa de Albano Jerónimo. Mas Victoria Guerra e Edward Ashley têm igualmente papéis assinaláveis. Um filme em que Rodrigo Areias, realizador que gosta de experimentar géneros e formatos, se acomoda, e nos acomoda, habilmente, fora da sua zona de conforto.
O Pior Homem de Londres > De Rodrigo Areias, com Albano Jerónimo, Edward Ashley, Victoria Guerra, Scott Coffey > 127 min