Desde a primeira edição, e já lá vão quase 40 anos, que o Jazz em Agosto se assumiu como uma referência, com uma identidade muito própria, feita de cartazes tão arriscados quanto abrangentes. Pela música, de inequívoca qualidade, mas também pelo modo como esta tem conseguido retratar as mudanças da sociedade ao longo do tempo. Tal como acontece com o ambicioso programa desta edição, focado no epicentro criativo do jazz desde o big-bang da sua criação: os ritmos africanos e o modo como estes influenciaram toda a música popular. Em destaque estão, ainda, projetos liderados por mulheres, que têm em comum a criatividade e a disrupção.
O concerto de abertura, na noite desta quinta, 27, será da Eve Risser’s Red Desert Orchestra, o melhor exemplo destas duas tendências, juntando no palco do Anfiteatro ao Ar Livre o coletivo liderado pela compositora e pianista francesa, composto por instrumentistas europeus e africanos que conduzem o ouvinte “numa viagem hipnótica e contagiante”, através de “música construída a partir de ciclos polirrítmicos”.
Outros momentos altos desta primeira semana de festival, também eles focados no conceito de transe musical, são, na sexta, 28, o concerto de Trance Map + e, no dia seguinte, sábado, 29, a apresentação da Natural Information Society, ambos tendo como denominador comum o saxofonista americano Evan Parker, sendo o segundo um projeto criado por Joshua Abrams em torno do guembri (um instrumento típico do género musical gnawa). Esta mesma marca hipnótica está também presente na música a solo de Susana Santos Silva e de Julia Reidy, apresentadas, respetivamente, nos dias 29 e 30.
No cartaz sobressaem, ainda, nomes como Marta Warelis e Camille Emaille, além dos tais “projetos de enorme destaque na música mais criativa de 2022”, todos eles com as lideranças femininas, de Eve Risser, Hedvig Mollestad, Zoh Amba, Myra Melford e Mary Halvorson.
Jazz em Agosto > Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa > 27 jul a 6 ago, qui a dom 18h30 e 21h30 > €6 a €15 e €90 (passe) > gulbenkian.pt