São registos intimistas, a preto-e-branco, do inconformismo de Mário Cesariny. No quarto, veem-se livros e papéis por todo o lado, paredes cobertas de quadros, a secretária caótica em que pintava, imagens de gatos (de que tanto gostava) e objetos acumulados ao longo de uma vida desalinhada.
O poeta e pintor surrealista deixa-se fotografar, irreverente, indomável e livre, com os olhos encovados e brilhantes a revelar o quanto se divertia com as poses e, sobretudo, com a presença de um interlocutor criativo. Era no quarto, afinal, onde recebia as visitas, deitado ou sentado na cama, e falava de tudo um pouco.

A exposição Mário Cesariny: O Outro Lado do Reflexo, divide-se em dois blocos principais de fotografias – as tiradas por Eduardo Tomé, no seu atelier e no seu lar, entre agosto e setembro de 1975, e as captadas por Duarte Belo, na casa da Rua Basílio Teles, em Lisboa, em 2002, “um navio de espelhos, onde o mundo fechado de Cesariny nos entrega os seus sinais, as suas sombras, as suas solidões, os seus sóis, os seus fantasmas, os seus funâmbulos”, refere José Manuel dos Santos, no livro Cesariny: Em casas como Aquela, em que as fotos foram publicadas.
Para compor o retrato, juntam-se outros registos mais íntimos, a revelarem laços familiares e de amizade com figuras como Eugénio de Andrade, Cruzeiro Seixas ou Perfecto E. Cuadrado – o coordenador do Centro Português do Surrealismo, que assina a curadoria em conjunto com Marlene Oliveira, diretora artística da Fundação Cupertino de Miranda –, assim como a exibição de Autografia, o documentário de Miguel Gonçalves Mendes.
Alguns dos objetos artísticos incluídos nas imagens (pertencentes à coleção da Fundação, que herdou todo o recheio artístico e literário das casas do artista, da sua autoria ou não), saltam das imagens e são incorporados na mostra, que antecede as comemorações do centenário do nascimento de Cesariny, a iniciar em agosto.

Mário Cesariny: O Outro Lado do Reflexo > Fundação Cupertino de Miranda > Pç. D. Maria II, V. N. Famalicão > T. 252 301 650 > até 16 jul, seg-sex 9h30-12h30, 14h-18h > grátis