1. Desabrigo, Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva
As formas negras, em ferro, de Rui Chafes são imediatamente reconhecíveis, familiares, mas nunca deixam de ser enigmas. Nesta exposição, entram em diálogo com outras obras bem carismáticas: as de Vieira da Silva e as de Arpad Szenes. Ao todo, são quatro esculturas de Chafes que se relacionam com o espaço muito particular da Fundação e Museu Arpad Szenes – Vieira da Silva. A peça Isto não Sou Eu, de 2022, foi criada para marcar duas salas da antiga Fábrica de Tecidos de Seda (edifício pombalino, do século XVIII). As esculturas Desabrigo I, II e III, de 2020, estão suspensas na galeria grande do museu (do edifício construído em 1923, fundido agora com a velha fábrica).
Desabrigo foi organizada em parceria com a Fundação Carmona Costa e em colaboração com a Galeria Filomena Soares. Recorde-se que até 26 de fevereiro se pode visitar uma grande exposição de Rui Chafes, no museu e parque de Serralves, no Porto. Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva > Pç. das Amoreiras 56, Lisboa > T. 21 388 0044 > até 15 jan, ter-dom 10h-18h > €7,50
2. Arte cibernética, MAAT (Central Tejo)
Uma marca importante da arte contemporânea, não só nas artes visuais, é a ambição de interatividade, de ultrapassar a mera relação obra/espectador. Esta exposição, com nove peças que integram a Coleção de Arte e Tecnologia do Itaú Cultural (instituição brasileira criada em São Paulo em 1987), centra-se nessa vontade de estabelecer pontes e relações diretas com os visitantes (ou entre elementos das próprias criações artísticas).
Todas as obras presentes no edifício da Central Tejo são deste século mas há nalgumas delas já um certo sabor a nostalgia retrofuturista (a própria palavra “cibernética” ajuda a essa sensação). Afinal, o desenvolvimento das tecnologias científicas e de comunicação, e os avanços na área da Inteligência Artificial, com várias interações com universos criativos e artísticos, têm acontecido de forma rápida e, muitas vezes, surpreendente.
Logo à entrada do edifício industrial da Central Tejo, o visitante avança para estas obras com vontade de fazer parte delas. Com um comando igual aos dos jogos de consolas, pode avançar, num grande ecrã, pelo imenso (poético?) vazio de Desertesejo, do brasileiro Gilbertto Prado. Como boa metáfora do ato criativo, numa velha máquina de escrever, pode inventar, tecla a tecla, letra a letra, um emaranhado e caótico universo de novos signos que se agrupam como pequenos seres vivos na folha em branco (em Life Writer, de Christa Sommerer e Laurent Mignonneau). Não faltam capacetes de realidade virtual, cada vez mais presentes em museus (em Odisseia, de Regina Silveira), nem o desafio de criarmos sons a partir dos nossos movimentos (em OP_ERA, Sonic Dimension, de Rejane Cantoni e Daniela Kutschat). Passo a passo, tentamos adivinhar e imaginar possibilidades que ainda não estão ali. MAAT (Central Tejo) > Av. Brasília, Lisboa > T. 21 002 8130 > até 12 dez, qua-seg 19h > €9
3. Novas ‘Novas Cartas Portuguesas’, Galeria Quadrum
Não é irrelevante que esta exposição ocupe o espaço da Galeria Quadrum, no bairro de Alvalade, em Lisboa. A Quadrum abriu portas em 1973, projetando-se para um futuro de liberdade num país que ainda estava preso, tenuemente, ao longo período de ditadura que marcou o seu século XX. A mesma ânsia de futuro e revolução de ideias que, em 1972, aconteceu com a publicação do livro Novas Cartas Portuguesas, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa.
Cinquenta anos depois, muito mudou. E esta exposição é uma boa ilustração dessas mudanças. Com curadoria de Tobi Maier, também diretor das Galerias Municipais de Lisboa, é um desafio a uma leitura artística contemporânea desse livro revolucionário. Estão presentes peças de nove artistas – Audun Alvestad, Aura, Fabiana Faleiros, Sara Graça, Rita Moreira, Delphine Seyrig, Caio Amado Soares, Francisca Sousa e Aleta Valente –, num estimulante cruzamento de geografias e géneros. A sexualidade e a abordagem contemporânea a questões de género e identidade percorrem a exposição. Ora com algum humor (como na websérie queer de Caio Soares Club Splendida), ora com uma atitude mais provocadora e direta (como nas instalações da brasileira Aleta Valente Marque Um X Para Cada Aborto que Você Já Fez e Bárbara ou em A Transformação do Mundo, de Aura, peça central da exposição). Galeria Quadrum > R. Alberto Oliveira 52, Lisboa > T. 21 583 0022 > até 26 fev, ter-dom 10h-13h, 14h-18h > grátis
4. Armanda Passos: Pintura a Óleo em Retrospetiva, Fundação Champalimaud
É a primeira grande exposição de obras da artista, após o seu falecimento, em outubro do ano passado, aos 77 anos. Com curadoria da filha, Fabíola Passos, Armanda Passos: Pintura a Óleo em Retrospetiva dá a ver, na Fundação Champalimaud, em Lisboa, 80 óleos da pintora que deu voz às mulheres a partir da sua arte. A maioria destas obras é desconhecida do grande público e proveniente de coleções institucionais e particulares – de Mário Cláudio, David Mourão-Ferreira, Miguel Cadilhe, Álvaro Siza e António Barreto, por exemplo, entre várias instituições como a Fundação Calouste Gulbenkian, a Universidade do Porto ou a própria Fundação Champalimaud. Uma oportunidade para observar de perto a obra de Armanda Passos (1944-2021) que, um dia, disse à VISÃO acreditar ser “otimista” na tela: “As pessoas que pinto são simpáticas, têm sempre um sorriso esboçado.” F.A. Centro de Exposições Fundação Champalimaud > Av. Brasília, Lisboa > T. 21 048 0200 > até 31 dez, seg-sáb 12h-20h > grátis
5. Histórias de todos os dias. Paula Rego, Anos 70, Casa das Histórias Paula Rego
Estudar a obra na sua multiplicidade, dar-lhe um ponto de vista diferente, eis o grande desafio de um museu monográfico. Na Casa das Histórias, em Cascais, Histórias de todos os dias. Paula Rego, Anos 70 reúne 115 obras da artista que se encontravam dispersas por colecionadores particulares. Esta tem sido a maior dificuldade, aponta a curadora Catarina Alfaro, revelando que, desta vez, o acesso ao arquivo da artista permitiu datar melhor os trabalhos, estabelecer relações entre as galerias, saber a quem foi vendida determinada obra, encontrar documentos únicos.
Uma série de nove desenhos a tinta da china, produzida entre 1969 e 1970, na casa do Estoril onde Paula Rego vivia, dá início à mostra. “Tudo afunila para as relações familiares, para o papel da mulher, a descoberta da sexualidade na adolescência”, explica Catarina Alfaro. “São, como a artista chamava, histórias de todos os dias.” Foi daí que nasceu o título para a exposição, a primeira desde a morte de Paula Rego, em junho passado, e que é complementada, no museu, com Paula Rego e Salette Tavares: Cartografias da criatividade feminina nos anos 70.
Catarina Alfaro fala dos anos 70 do século passado como uma época embrião das técnicas e formas que Paula Rego foi experimentando e que estão na origem da construção do seu próprio universo nas décadas seguintes: a tinta acrílica, apesar de ainda ter colagem; o gosto pelos livros de banda desenhada, as imagens que vê em jornais e exposições e das quais se apropria. Para esta exposição, vieram, do atelier de Londres, obras até aqui inéditas (como a grande maioria, de resto). Uma delas, A Noiva do Corvo, está associada ao estudo exaustivo que Paula Rego fez sobre os contos populares. Ao longo de sete salas, exploram-se também os arquivos da Fundação Calouste Gulbenkian e mostram-se os relatórios das bolsas que a instituição atribuiu à artista, em 1977 e 1978. I.B. Casa das Histórias – Paula Rego > Av. da República, 300, Cascais > T. 21 482 6970 > até 21 mai, ter-dom 10h-18h > €5, €2,50 (residentes, mais de 65 anos e estudantes), grátis até 18 anos
6. Evilution, Edu Hub Lisbon
A consciência ambiental é transversal a tudo o que leva a assinatura Bordalo II: desde os animais que escolhe representar (quase todos ameaçados) aos materiais usados, sempre restos e resíduos a apontar o dedo à sociedade consumista. Este trabalho singular já tinha sido antologiado em Attero, exposição que em 2017 ocupou o seu atelier em Xabregas. Agora, não muito longe dali, no Edu Hub Lisbon, está Evilution: “O nome é uma dualidade entre aquilo que é a evolução do meu trabalho e a evolução da Humanidade”, explica o artista. “Parece que temos andado para trás. Coisas que pareciam óbvias – direito à diferença, o aborto… – são outra vez tema de discussão. Leva-me a crer que não temos nada como garantido. É uma evolução em contramão.”
À entrada, numa galeria de luz baixa, encontram-se três séries de Small Trash Animals. Estes são os trabalhos mais reconhecíveis do artista, replicados um pouco por todo o mundo. Bordallo II, 35 anos, prefere manter a surpresa, mas vai dando algumas pistas sobre as obras inéditas aqui expostas. “Quando falamos de desperdício, do que vai para o lixo, o mais importante é entendermos a quantidade; é impossível contabilizar as pontas de cigarro no chão, mas a repetição desses materiais torna mais evidente e óbvio o problema.”
Na imagem de divulgação de Evilution, há uma raposa de contornos iluminados por leds que revelam plásticos finos, arames, mangueiras, redes, fitas. Estas peças “são como esboços iluminados”, diz o artista. Serão elas as protagonistas de outro momento-surpresa de Evilution, que começou a ser preparado no final da primeira quarentena. O que terá andado Bordalo II a fazer, enquanto estávamos fechados em casa? I.B. Edu Hub Lisbon > Av. Marechal Gomes da Costa, 19, Lisboa > até 11 dez, qua-dom 14h-20h (última entrada 19h) > grátis
7. Exist/Resist, Obras de Didier Fiúza Faustino: 1995-2022, MAAT
A identidade museológica do MAAT (Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia) parece feita à medida para receber uma exposição como a do francês, de origem portuguesa, Didier Fiúza Faustino. Aqui, cruzam-se, precisamente, um ponto de partida situado no universo da arquitetura e do design, uma atenção clara e crítica às tecnologias e, mais importante, uma atitude livre e criativa de artista contemporâneo, sem barreiras. Esta exposição, com curadoria de Pelin Tan, ocupa a nave central do MAAT com objetos e instalações divididos em quatro temas, que são, por si, todo um programa artístico: Habitação e Alojamento, Fronteiras de Corpos, Design como Resistência e, finalmente, Agonismo no Espaço Público. Esta é a primeira retrospetiva num grande museu da obra transdisciplinar de Didier, arquiteto com pulsão de artista, ou vice-versa. Várias preocupações bem contemporâneas (os desafios das democracias, as grandes migrações, a Humanidade a lidar com a ideia do seu fim apocalíptico…) atravessam estas obras, que primeiro se estranham e depois se entranham. MAAT > Av. Brasília, Lisboa > T. 21 002 8130 > até 6 mar, qua-seg 10h-19h > €9