O primeiro ato é o mais próximo da obra original de Virginia Woolf. O segundo abre-se a referências a filósofos que falam de questões feministas e queer, como Judith Butler e Paul B. Preciado. E o terceiro trata de atingir a libertação, a ascese. Albano Jerónimo, o encenador deste Orlando, escrito por Cláudia Lucas Chéu a partir do romance de Woolf, publicado em 1928, diz que estamos perante “um tratado sobre a dignidade humana”.
“Preciado tem uma obra chamada Um Apartamento em Urano”, conta-nos Albano Jerónimo, explicando que o espetáculo abre com um prólogo que contextualiza a figura de Orlando. “Urano, na Grécia Antiga, era tido como um planeta de liberdade, sem género e sem sexo, onde tudo e todos poderiam ser aquilo que quisessem.” E é nesse planeta que habitam os deuses. “Decidimos convocar este concílio de deuses para falar sobre estes temas na sua génese”, acrescenta, referindo que, para escrever Orlando, Virginia Woolf se baseou n’O Banquete, de Platão, e no seu Mito do Andrógino.

“A meio da obra, Woolf desafia-nos, a cada um de nós, a desenvolver a sua própria história de um Orlando possível”, diz ainda Albano Jerónimo. “O terceiro ato é uma espécie de libertação deste Orlando, uma ascese a outro sítio, que se quer melhor, que se quer de futuro: mais livre, plural e onde cada diversidade exista por si.” O encenador confessa que este é um dos espetáculos tecnicamente mais difíceis que já dirigiu e que a peça é um objeto vivo, em “mutação permanente”, pelo que as apresentações nunca são iguais. “O nosso intuito foi sempre o de criar uma dramaturgia que estivesse em desequilíbrio permanente.” No coletivo Teatro Nacional 21 (TN21), acredita-se no poder construtivo das falhas.
Orlando > Teatro Nacional D. Maria II > Pç. D. Pedro IV, Lisboa > T. 21 325 0800 > até 9 abr, ter-sáb 19h, dom 16h > €9-€16