1.Terçolho, de João Maria Gusmão & Pedro Paiva, Museu de Serralves
Desacelera-se quando se entra num espaço criado por esta dupla de artistas, como naquelas obras cinematográficas vintage, em que se simulam experiências oníricas, mundos paralelos: há um grão a tingir tudo, uma distorção, uma perturbação. Perceção, investigação, deslocação, ficção são sempre palavras convocadas numa tentativa de bússola unificadora. João Maria Gusmão (1979) e Pedro Paiva (1978) oferecem léxicos como “metafísica recreativa” ou “abissologia” (em 2009, fundaram a Sociedade Internacional de Abissologia, suposta plataforma para a sua pesquisa), ou seja, laboratórios de experimentação, onde eles testam aparentemente o conhecimento empírico, o método científico, os limites do universo.
A dupla vencedora do Prémio EDP Novos Artistas 2005, que representou Portugal na 53ª Bienal de Veneza, construiu uma metodologia assente em enigmas. Há as salas escuras ritmadas pelo som dos projetores, onde revelam filmes em 16 mm ou 35 mm; objetos quotidianos dispostos como achados arqueológicos; criações cinéticas e pequenas ficções (inspiradas pela filosofia e pela literatura – de Alfred Jarry, Fernando Pessoa, Jorge Luís Borges…). E imagens que desafiam as leis da física: um homem dedicado ao equilibrismo de empilhar ovos em Colombo’s Column, de 2006, uma figura que faz mover troncos em Cinematics (or the log enchanter), do mesmo ano, um feixe de palha flutuante em Body of Straw, de 2010. Há, ainda, animais à beira da taxidermia, jogos de escala, ovos ampliados que parecem planetas ou moléculas escrutinadas, esculturas de bronze que evocam um teatro de silhuetas ou coisas roubadas à proverbial caverna platónica.
No Museu de Serralves, alinham-se filmes, fotografias, esculturas e instalações numa dita lógica imersiva, com curadoria de Marta Moreira de Almeida e Philippe Vergne. Todo um passeio de ilusionistas em que o observador se maravilha: o que é isto? É possível? “Duvido, portanto penso”, já dizia Pessoa. S.S.C. Museu de Serralves > R. Dom João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6500 > até 7 nov, seg-dom 10h-19h > €10
2. Alberto Giacometti – Peter Lindbergh: Capturar o Invísivel, Museu da Misericórdia
Em 2017, após ter sido convidado a fotografar o depósito de obras na Fundação Giacometti, em Paris, Peter Lindbergh (1944-2019) terá definido aqueles dias como dos mais bonitos da sua vida. O fotógrafo e realizador alemão, conhecido pelo realismo nas fotografias de moda a modelos como Naomi Campbell, Cindy Crawford ou Christy Turlington na década de 1990, era um entusiasta da obra do suíço Alberto Giacometti (1901-1966), há muito fascinado pelas suas esculturas e retratos. Esta exposição, no Museu da Misericórdia do Porto, visitado por Lindbergh poucos meses antes de o fotógrafo morrer (em setembro de 2019), resulta do confronto dessas duas artes e mostra pela primeira vez em Portugal cerca de 110 obras, entre fotografias, esculturas (bronzes) e desenhos.
Nas fotografias de grandes dimensões, a preto-e-branco, o artista alemão retratou pormenores das obras de Giacometti impossíveis de captar a olho nu. Os bronzes de diferentes períodos do artista surrealista – desde o início da sua carreira no atelier em Montparnasse, Paris (1922), a bustos austeros e petrificados da sua mulher Annette Arm (1962) e do seu irmão Diego, até esculturas como a icónica The Walking Man (1960), uma das mais conhecidas – foram fotografados em grandes planos por Lindbergh, como se de rostos de seres humanos se tratasse. Como diz a curadora da Fundação Giacometti, Serena Bucalo-Lussely, “o que interessou a Peter Lindbergh foi captar a alma do artista”. F.A. Museu da Misericórdia do Porto > R. das Flores, 15, Porto> T. 22 090 6960 > até 24 set, seg-dom 10h-18h30 > €10
3. Obras Gráficas, de Francis Bacon, Galeria World of Wine
Uma parte da obra do pintor figurativo irlandês é mostrada, pela primeira vez em Portugal, na nova galeria do World of Wine, em Vila Nova de Gaia. De Francis Bacon (1909-1992) expõem-se 23 litografias do período 1971-1991, pertencentes à Renschdael Art Foundation e apresentadas uma única vez no holandês Noordbrabants Museum. Produzidas a partir da encomenda de ilustrações de livros, edições de exposições especiais e pedidos privados, estas obras gráficas representam o percurso do artista dos anos 50 aos 80, e traçam a sua relação com temas como a religião, literatura, rivalidade, retratos e morte. Um filme sobre Francis Bacon e vários conteúdos multimédia sobre a sua obra de deformação pictórica fazem parte da mostra, que conta com a colaboração do The Estate Francis Bacon de Londres. F.A. Galeria WoW > R. do Choupelo, 39, Vila Nova de Gaia > T. 22 012 1200 > até 26 set, seg-dom 12h-19h > €8 (até 30 jun), €12 (a partir 1 jul), €5 estudantes e maiores 65 anos
4. Barber Shop, de Gonçalo Pena, Museu de Serralves
Gonçalo Pena oferece sempre um teatro de personagens esparramados parede fora, enchente rabiscada e rebuscada que obriga à proximidade: há sempre uma camada, ou duas, ou três, de significados mais ou menos biográficos, ironias históricas e alusões populares, por trás dos traços naïfs. Esta acessibilidade é uma falsa sensação de segurança: o humor corrosivo é omnipresente. O artista regressa a Serralves com uma súmula dos desenhos produzidos nos últimos anos, sobre as “investidas fictícias meta-metafóricas de um cidadão cuja ocupação é ser barbeiro na terra dos bárbaros lusitanos”, e intenção “libertária”, nas palavras do curador João Maria Gusmão (definição para desconfiar, vinda de alguém que também pratica a encenação como superior exercício artístico). O resto está no papel: criaturas de fábulas, deuses, fidalgos, indígenas, animais antropomorfizados, sexo, irrisão, real travestido… S.S.C. Museu de Serralves > R. D. João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6500 > até 10 out, ter-sex 10h-18h, sáb-dom 10h-19h > €10
5. O Desenho da Vida na Obra de Manuel Marques de Aguiar, Casa-Atelier Marques da Silva
Com curadoria de David Leite Viana, a exposição revela projetos, desenhos e memórias na obra de Manuel Marques de Aguiar (1927-2015), naquela que é a primeira mostra após a doação do acervo do arquiteto à Fundação Marques da Silva. Nas salas da Casa-Atelier Marques da Silva estão registos desde o tempo de formação em Paris, na década de 50, até aos primeiros anos do século XXI, recordando obras como a Escola Francesa do Porto, o Mercado e Casa do Forno, em Montalegre, o planeamento urbano de Espinho, a reconstrução de Angra do Heroísmo após o terramoto de 1980, os Edifícios Figueiredo e Lar Familiar, no Porto, ou o trabalho desenvolvido na Direção-Geral de Ordenamento do Território F.A. Fundação Marques da Silva > Pç. Marquês de Pombal, 30, Porto > T. 22 551 8557 > até 30 set, seg-sáb 14h-18h > €3
6. Pés de Barro, Galeria Municipal do Porto
Nesta coletiva, reúnem-se artistas que têm usado o barro, a olaria e a cerâmica “para imaginar, projetar e moldar o mundo em que vivem”, refletindo ao mesmo tempo sobre as diferentes possibilidades destes materiais, a partir do convite das curadoras Chus Martínez (historiadora de arte) e Filipa Ramos (escritora). Em Pés de Barro, encontram-se obras de Neïl Beloufa (França), Isabel Carvalho (Portugal), Gabriel Chaile (Argentina), Pauline Curnier Jardin (França), o coletivo Formabesta, composto por Salvador Cidrás e Juan Cidrás (Espanha), Tamara Henderson (Canadá), Ana Jotta (Portugal) e Eduardo Navarro (Argentina).
“E se o futuro for uma tecnologia tão antiga e peculiar como o barro? E se o barro for o futuro e o futuro for o barro? E se os pés de barro apenas revelam vulnerabilidade por o resto do corpo ser constituído por um material diferente? E se na verdade os pés de barro enraízam pessoas na terra, ligando as através do mesmo material?”, são algumas das questões levantadas nesta mostra. F.A. Galeria Municipal do Porto > Jardins Palácio de Cristal, R. D. Manuel II, Porto > T. 22 608 1063 > até 22 ago, ter-dom 10h-18h > grátis
7. Utopia!?, de Nalini Malani, Museu de Serralves
A Índia ecoa-nos na cabeça, consequência das imagens de uma pandemia avassaladora. É também ao gigante asiático que Nalini Malani nos leva na primeira exposição em Portugal desta artista, com 75 anos, conhecida pela sua voz provocatória e feminista. No Museu de Serralves, expõe quatro obras e uma grande instalação imersiva, dos anos 60 até aos nossos dias, numa presença a que decidiu chamar Utopia – “pela crença naquilo que poderia ter sido o país após a independência”, justifica Filipa Loureiro, uma das comissárias. “Ao longo da exposição, percebemos que isso vai levar-nos a uma desilusão perante aquilo em que a Índia se transformou e onde vigora a violência nas comunidades, a precariedade, as violações…” F.A. Museu de Serralves > R. D. João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6500 > até 29 ago, seg-dom 10h-19h > €10
8. Radar Veneza, Casa da Arquitectura
A nova exposição da Casa da Arquitectura, Radar Veneza – Arquitetos Portugueses na Bienal 1975-2021, a ocupar a nave central do edifício da antiga Real Vinícola, propõe uma viagem sobre a participação portuguesa em Veneza, desde 1975 até 2021. Construída a partir do acervo das representações portuguesas na Bienal de Arquitetura de Veneza que a Direção-Geral das Artes depositou na Casa da Arquitectura, inclui uma parte cronológica, outra de história oral (com entrevistas a Álvaro Siza Vieira, Eduardo Souto de Moura, Nuno Grande, Roberto Cremascoli, Francisco Aires Mateus, Delfim Sardo, entre outros), e uma terceira com desenhos (são 24), a partir das arquiteturas em Veneza, além de 120 imagens ilustrativas.
Do programa da exposição, consta um catálogo (336 páginas), com ensaios de Joaquim Moreno, Alexandra Areia e Léa-Catherine Szacka (arquiteta, crítica e especialista na Bienal de Veneza), e 31 entrevistas transcritas aos protagonistas das participações portuguesas na Bienal durantes estes 46 anos. F.A. Casa da Arquitectura > Av. Menéres, 456, Matosinhos > T. 22 766 9300 > até 10 out > ter-sex 10h-18h, sáb-dom 10h-19h > €8, menores de 12 anos grátis, 50% desconto estudantes e maiores de 65 anos