1. Made in Situ
A exposição Barro Negro é uma viagem às tradições portuguesas, com paragem em Molelos, Tondela, onde Noé Duchaufour-Lawrance fez a primeira coleção para a galeria Made in Situ, aberta em setembro, perto da Praça da Alegria. O designer mudou-se para Portugal em 2018, à procura de uma vida menos corrida do que a que tinha em Paris. “É um privilégio sairmos da nossa zona de conforto e podermos olhar as coisas de uma forma diferente”, afirma.
Apresentadas com uma cenografia imersiva, as peças da coleção têm lugar de destaque no centro da sala. Ouve-se o crepitar do fogo, numa coletânea de sons recolhidos por Moullinex, sente-se a fragrância criada por Daphne Bugey a partir da botânica da região e, num vídeo, descobrem-se as personagens desta história que, além de Noé, incluem os artesãos Xana Monteiro e Carlos Lima – foram eles que moldaram, na roda de oleiro, os vasos, os candeeiros e os difusores. “Quis reproduzir, aqui, a experiência vivida durante o processo de cozedura das peças na soenga. Foi um momento muito especial, místico”, diz.
Noé descobriu o barro negro numa visita ao Museu Nacional de Etnologia e só depois a técnica ancestral (numa cova feita no chão, as peças são colocadas sobre casca de pinheiro, ervas e raízes secas, e depois cobertas com torrões de terra, ateando-se-lhes o fogo). “Interessa-me esta ligação do material com a Natureza de cada lugar, do saber-fazer intrínseco, a riqueza de cada território.”
Na Made in Situ, Noé continuará a mostrar coleções de edição limitada, desenhadas por si com a colaboração de artesãos nacionais. “O ponto de partida é sempre o design, depois há uma leitura e uma contextualização que podem vir a ser feitas em comunhão com outros talentos, como chefes de cozinha ou músicos.” Tv. do Rosário, 16, Lisboa > T. 91 884 4380 > visitas por marcação
2. Galeria 111
É um dos nomes incontornáveis quando se fala da História das galerias de arte em Portugal. Afinal, a Galeria 111 existe desde 1964 e foi construindo uma reputação sólida, ligada a grandes nomes da arte contemporânea portuguesa. Mas mesmo o seu público habitual (ou sobretudo esse) sente um cheiro a novidade quando entra na porta 5B da Rua Dr. João Soares, ali mesmo ao lado do Colégio Moderno. Depois de 50 anos em que tudo girava à volta do número 113 do Campo Grande, agora é ali o coração da galeria, o sítio certo para ver novas exposições e para espreitar o rico acervo da 111. Essa aposta de mudança foi feita em fevereiro deste ano, ofuscada depois pelos meses em que a pandemia concentrou a atenção de todos.
Neste momento, até 9 de janeiro, pode ver-se ali Quacors e Prismas, exposição de Ascânio MMM, arquiteto/escultor que se afirmou no Brasil (nasceu em Fão, Portugal, em 1941, mas foi viver para o Rio de Janeiro em 1959).
A ideia de Rui Brito, atual responsável pela 111, é de que num futuro próximo ela se espalhe por três polos: esta galeria principal, o espaço clássico do Campo Grande, onde se vão mostrando obras da preciosa Coleção Manuel de Brito (fundador da Galeria 111) e uma espécie de “sala de projetos” para revelar artistas emergentes. P.D.A. R. Dr. João Soares 5B, Lisboa > T. 21 797 7418 > ter-sáb, 10h-19h
3. Sokyo Lisbon
Foi com o trabalho da japonesa Mishima Kimiyo que se inaugurou, em outubro passado, a galeria Sokyo Lisbon, na zona de São Bento. Pela primeira vez em Portugal, mostram-se 12 obras da artista de 88 anos, essencialmente cerâmica e dois quadros – um em técnica mista (óleo e colagem), o outro, uma serigrafia –, produzidos desde os anos 60 até 2020. “É como se fosse uma retrospetiva da sua carreira. Mishima foi uma visionária. Desde o início que o seu trabalho questiona esta cultura da acumulação, do lixo, do bem de consumo que acaba e deixa a embalagem para trás”, desvenda Joana Pessoa, responsável pela Sokyo Lisbon.
Prevista para maio passado, a abertura da galeria acabaria por ser adiada devido à pandemia. A diretora e curadora é Atsumi Fujita, responsável pela Sokyo Gallery, em Quioto, no Japão, fundada em 2013 e com representação de mais de 60 artistas japoneses na área da cerâmica contemporânea, mas também laca, têxteis, vidro e metal. “A Atsumi tem dado a conhecer a arte contemporânea japonesa um pouco por toda a Europa. A abertura da galeria em Lisboa, em parceria com investidores nacionais, marca a sua internacionalização”, explica Joana.
As exposições vão ser todas pensadas e desenhadas por Atsumi, embora a programação possa não coincidir integralmente com a casa-mãe. “Podemos vir a ter artistas fora das representações habituais da Sokyo”, refere Joana. Por agora, e até 12 de dezembro, são as peças de Mishima Kimiyo, que aplica serigrafia em cerâmica, a merecer toda a atenção. R. de S. Bento, 440, Lisboa > T. 92 555 2534 ter-sex 11h-19h, sáb 10h-14h
4. Muñoz Carmona Art & Gallery
Quem passa em frente à grande janela envidraçada da Muñoz Carmona, na Rua do Alecrim, não fica indiferente à peça Woodpecker. Uma enorme raiz de eucalipto apresentada virada ao contrário, “para ver-se o que não é costume ver-se”, revela um pica-pau-verde-asiático através de uma lente de aumentar. É um autêntico chamariz para crianças e adultos que colam o nariz ao vidro para espreitar esta e outras obras da exposição Natureza Morta − Steal Life, nesta nova galeria do Chiado.
Juan Muñoz Carmona e André Ribeiro, a dupla de artistas do The Studio, assinam esta mostra em que se interroga a relação do Homem com a Natureza, no sentido da apropriação. “A ideia de pormos animais em gaiolas vem desde criança, está tão instituída e é tão absurda ao mesmo tempo, questionarmo-nos sobre isso é muito importante”, dizem.
Dispostas pela galeria, com cerca de 50 metros quadrados, estão 14 peças, trabalhadas com materiais como ouro, madeira, latão, prata e pedras semipreciosas. Do conjunto, são as que apresentam animais conservados (taxidermia) aquelas que mais se destacam. “É provocatória, sim, mas não foi pensada para ser crítica nem moralista, é para fazer pensar. Pode chocar, mas também tem ironia e humor”, defende a dupla.
A Muñoz Carmona abriu para quebrar barreiras (“somos um espaço cultural democrático, onde toda a gente pode usufruir de arte contemporânea”) e funciona de forma diferente: “Não representamos artistas, o que queremos é trazer quem ainda não se tenha apresentado em Portugal, nomes cujo trabalho, a nós, nos deixa com água na boca.” Para isso, contam com a ajuda de Deborah Harris, responsável pela curadoria e pela agenda que irá intercalar exposições de André Ribeiro e Juan Carmona com as de artistas convidados, como Curtis Santiago, Rachel Lee Hovnanian e Bo Joseph, já em 2021. R. do Alecrim, 109, Lisboa > ter-sáb 12h-20h
5. Campo Pequeno Art Gallery
Nesta nova sala de exposições, no Centro Comercial do Campo Pequeno, em Lisboa, a produtora de espetáculos Everything Is New dá lugar a artistas nacionais emergentes, com menor capacidade de promoção e divulgação. “É um projeto especial, surge numa fase em que é preciso ter coragem para abrir uma galeria para mostrar jovens nas mais variadas vertentes das artes”, nota Maria José Cabral, curadora de Desconfinamento, a exposição que inaugurou em outubro a Campo Pequeno Art Gallery.
Por estes dias, e até 10 de janeiro, expõe-se A Clue To Reality, a nova coletiva que mostra uma grande diversidade de técnicas e atmosferas em obras de nove artistas portugueses: Carolina Vaz, Francisca Coutinho, Francisco Paínço Santos, Isabel Murteira, Joana Pitta, Margarida Andrade, Maria José Cabral, Paulo Albuquerque e Rafaela Nunes. A decorrer em simultâneo, Fases de Isolamento, do fotógrafo João Carlos, revela um conjunto de 15 trabalhos sobre as várias fases de isolamento e respetivas emoções. Para ver até 7 de janeiro. Centro de Lazer do Campo Pequeno, Lisboa > seg-dom 11h-20h