
Em Rua de Sentido Único, Walter Benjamin escreve que a força de uma estrada do campo é diferente quando caminhamos por ela e quando voamos sobre ela de avião. Quem voa vê apenas o modo como a estrada se desdobra de acordo com as leis da paisagem vista de cima; já quem caminha conhece a força que ela tem, a forma como se abre à nossa frente e se fecha atrás de nós. Estas considerações do filósofo alemão serviram a Ivana Müller para pôr as suas quatro personagens em palco sempre em movimento – mas em slow motion. Para isso, socorreu-se também da aprendizagem que fez através da observação da vida das plantas num jardim parisiense: Les Jardins Passagers du Parc de la Villette. Em Conversations Out of Place aprendemos, ou reaprendemos, a desacelerar o tempo.
“Quando caminhamos, conseguimos ver uma multitude de detalhes que nos ajudam a construir a nossa ideia do mundo. Trabalhamos muito mais com um sentido de visão aprofundado e com a intuição, porque estamos a antecipar o que vem a seguir, para onde vamos”, explica Müller. “Para mim, foi interessante usar esta metáfora da caminhada, de uma viagem imaginária que estamos a fazer juntos.” Estes quatro viajantes, de mochila às costas, sempre a caminhar em câmara lenta, fazem apreciações sobre os deslumbramentos e os perigos da Natureza, sobre o lugar da condição humana no mundo, sobre ecologia; e, através do trabalho de luzes (joga-se com a ideia de dia e de noite), exploram-se os sentidos de visão e audição, aciona-se o interruptor da sobrevivência: “O dia tem os seus olhos e a noite os seus ouvidos.” O tempo é, aqui, delongado e provoca no corpo do espectador uma sensação de desaceleração, como se tivesse saído de uma aula de meditação. “Esta caminhada longa é uma alegoria, a de nos sentirmos perdidos, e isso tem tanto de libertador como de assustador”, conclui a coreógrafa croata.
Conversations Out of Place > Teatro Nacional D. Maria II > Pç. D. Pedro IV, Lisboa > T. 21 325 0800 > 4-5 mai, sáb-dom 19h > €9 a €16