Tudo o que se disser apenas dará uma pequena ideia da escala. A caravela que está nas mãos do Infante D. Henrique, por exemplo, ocupava mais do que um andaime. E, quando se chegava lá acima, 25 andares a entrar pelo Tejo adentro aos quais se podia aceder através de um elevador (com um friozinho na barriga, sim), viam-se coisas como o pormenor do colar de dona Filipa de Lencastre, a precisão do entrançado dos tecidos nos chapéus dos navegadores, a minúcia dos números do astrolábio nas mãos de Gil Eanes.
Falamos do Padrão dos Descobrimentos e da recuperação que o monumento-símbolo do Estado Novo – construído originalmente para a Exposição do Mundo Português de 1940, segundo projeto imaginado pelo arquiteto Cottinelli Telmo e concretizado pelo escultor Leopoldo de Almeida – foi sujeito entre junho e dezembro de 2016. De todo esse processo de restauro, que sobretudo pretendia estancar a entrada de água dentro do edifício, dá agora conta uma exposição, a inaugurar este sábado, 7, às 18 horas, no próprio Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa. Patente até ao final de setembro, Na Ponta dos Dedos reúne imagens de Luís Pavão, fotógrafo que se tem dedicado à fotografia de arquitetura e fotografia etnológica e que acompanhou as várias fases da obra no Padrão. A intervenção, entretanto, estendeu-se também à limpeza das juntas e à consolidação da pedra, conforme explica a professora da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa Alice Nogueira Alves, que seguiu o restauro de perto. “Quando fomos lá a cima é que pudermos observar o pormenor e comprovar o virtuosismo técnico, que é impressionante”, diz.
E é justamente todo o pormenor do monumento que, agora, é possível constatar nas fotografias de Luís Pavão. A exposição inclui imagens que documentam o trabalho de restauro e também outras que, sem tábuas nem andaimes a envolver as estátuas, permitem ver toda uma outra volumetria de figuras como Vasco da Gama, Luís de Camões, Bartolomeu Dias, Fernão de Magalhães, João de Barros… Luís Pavão conta que já tinha fotografado o Padrão dos Descobrimentos, mas que tinha apenas uma perceção distante do monumento, erguido em betão armado e revestido por cantaria de pedra rosal de Leiria, sendo as esculturas em calcário de Sintra. Agora, Luís Pavão pôde, de alguma maneira, ter o trabalho do escultor ao alcance dos seus dedos. “A luz do Sol, filtrada pelas esteiras do andaime e a luz artificial nas sessões nocturnas, moldaram as formas e acentuaram as texturas”, afirma o fotógrafo.
Até setembro, está previsto um Programa de Visitas Conversadas. Às 11 horas, dos dias 16 de julho e 16 de setembro, Alice Nogueira Alves e Luís Pavão vão falar de tudo quanto está para lá das fotografias. Para os públicos com necessidades especiais, organizam-se três sessões: 21 de julho (Língua Gestual Portuguesa), 28 de julho e 15 de setembro (Audiodescrição).
Na Ponta dos Dedos > Padrão dos Descobrimentos, Av. Brasília, Lisboa > T. 21 303 1950 > 7 jul-30 set > seg-dom 10h-19h > €5 com descontos para jovens e maiores de 65 anos