
‘Crevescer’, da companhia Caótica, um cruzamento de cinema, música e teatro, é uma das propostas de teatro para crianças
O traço deixado pela ponta do lápis nem sempre é linear. Tanto ganha forma numa folha de papel, como alimenta espetáculos de teatro e concertos-filme. E são estes cruzamentos improváveis que enriquecem o Ilustração à Vista, em Ílhavo, município fortemente marcado por esta arte, refletida na cerâmica da Vista Alegre. À segunda edição, o festival cresce e multiplica-se, com uma programação distribuída por vários palcos e pontos deste território, entre esta quinta e domingo, 3 a 6.

Em ‘Ilustração à Vista de Todos’, o acervo da Vista Alegre é reinterpretado por um autor, com a ajuda de um pintor ou ilustrador
Os diferentes caminhos da ilustração refletem-se, desde logo, nas quatro exposições que fazem parte do festival (e prolongadas até 30 de setembro). Na Casa da Cultura de Ílhavo serão destacados os trabalhos em xilogravura e zincogravura do ilhavense João Carlos (1899-1960), médico de formação, pertencente à segunda geração de artistas modernistas portugueses, guardados nas coleções dos museus e instituições da cidade. No Museu da Vista Alegre, a Plate it, Please! reunirá obras de 80 ilustradores internacionais, com vários estilos, técnicas e temas, capazes de serem transpostas para porcelana. No mesmo local, decorrerá a Ilustração à Vista de Todos, com curadoria de Adélia Carvalho. A mostra surgiu no âmbito do projeto 1+1=1, da Vista Alegre, que convida um escritor, realizador, compositor, cineasta ou outro autor a eleger uma das suas obras mais representativas, que é depois interpretada por um pintor ou ilustrador à sua escolha numa peça da Vista Alegre. A mostra revelará as diferentes fases desse processo criativo. Enquanto instalação, Vasco Mourão apresentará Fragmentos Urbanos, na Fábrica das Ideias da Gafanha da Nazaré, um labirinto formado por pedaços de desenhos originais de várias cidades mundiais, de Génova a Nova Iorque.
No que diz respeito às oficinas, no dia 5, o Museu da Vista Alegre convidará as artistas Marta Madureira a ensinar a ilustrar com porcelana, com diferentes peças a dar forma a personagens, e Evelina Oliveira a ilustrar a porcelana (€40, inscrições: museu@vistaalegre.com ou T. 234 320 628), colorindo e contando histórias através dos objetos cerâmicos. Haverá ainda a oportunidade, dia 5, de abordar o desenho científico, sob a orientação de Teodora Boneva, aproveitando para explorar a coleção de História Natural do Museu Marítimo de Ílhavo (visitas.mmi@cm-ilhavo.pt ou T. 234 329 990). Outra proposta curiosa é a de Desenhar por Dentro, com duas sessões (dias 5 e 6, conduzidas por Karen Lacroix da Uncanny Editions) a percorrer o centro histórico de Ílhavo, captando as relações entre a ilustração e a arquitetura (inscrições mediacao.23milhas@cm-ilhavo.pt ou T. 234 397 260).

Os Big Dancers ocuparão as ruas de Ílhavo
Estão também pensadas diferentes propostas de teatro para crianças. No dia 5, a Fábrica das Ideias, na Gafanha da Nazaré, acolhe Crevescer, da companhia Caótica, uma reflexão sobre a passagem do tempo e também sobre a distância entre aquilo que imaginávamos ser quando fôssemos crescidos e o que recordamos ter sido quando fomos crianças. Um cruzamento entre cinema, música e teatro, como é habitual no grupo fundado pela encenadora-autora Caroline Bergeron e pelo músico-cineasta António-Pedro. Já no dia 6, no Laboratório das Artes – Teatro Vista Alegre, decorrerá ArvoreSer, com a atriz e encenadora Sónia Barbosa a contar histórias improváveis a crianças, com a ajuda das ilustrações ao vivo de Catarina Fernandes.
Entre as propostas performativas, refira-se Sueños de Arena, dia 4, no largo da Vista Alegre, com a areia como material criativo efémero a ser trabalhada por Borja González, fundador da companhia Ytuquepintas. Nos dias 4 e 5, é a vez da Casa da Cultura de Ílhavo receber Cortado por todos os lados, aberto por todos os cantos, uma peça site-specific de Gustavo Ciríaco, apresentada como uma “uma tour pelo teatro enquanto escultura expandida, como campo de posicionamento, encenação e manipulação do real, em que o lugar de onde o espectador vê algo, constrói-lhe a apreciação, a imaginação, o seu próprio teatro em deambulação”. Os cruzamentos artísticos serão explorados em Mira Mar, um concerto-filme para ver, dia 5, na Casa da Cultura de Ílhavo, em que os guitarristas Frankie Chavez e Peixe juntam-se a Jorge Quintela, responsável pela projeção de imagens.
As ruas de Ílhavo servirão de palco a Big Dancers, com bonecos fluorescentes a invadir o jardim Henriqueta Maia (dia 5) e a protagonizarem um bailado eletrónico, e a Entremundos, uma performance deambulante de marionetas gigantes pelo jardim 31 de Agosto (dia 6), a encerrar o festival. Propostas a desconstruir a forma como vivemos o espaço público. De traço livre.
Laboratório das Artes – Teatro Vista Alegre > Rua Augusto, Vista Alegre, Ílhavo > Fábrica das Ideias – Gafanha da Nazaré > R. Prior Guerra, Gafanha da Nazaré > Casa da Cultura Ílhavo > Av. 25 de Abril, Ílhavo > Centro Histórico de Ílhavo > T. 234 397 260 > 3-6 mai, qui-dom 10h-01h