
“Bronx Doors, Bronx Floors” de Gordon Matta Clark, da Coleção Fundação de Serralves – MUseu de Arte Contemporânea, registados por Filipe Braga
Famoso pelas incisões em prédios abandonados, nos quais fez desaparecer parte do teto, do piso ou das paredes, Gordon Matta-Clark optou por destruir para, num segundo momento, criar uma experiência singular. Poucas pessoas conseguiram ver no terreno essa perspetiva conferida pela sua intervenção que, ao deixar entrar a luz, revelava pormenores invisíveis, da estrutura, da arquitetura, da intimidade da construções.
O artista americano documentou tudo em fotografias, filmes e desenhos, aos quais se junta agora alguma correspondência e os cadernos de notas, na exposição Splitting, Cutting, Writing, Drawing, Eating…Gordon Matta-Clark, para ver no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, desta sexta, 5, até 3 de setembro. Além de materiais do arquivo do Canadian Centre for Architecture, de Montréal, há duas fotografias e oito filmes da coleção de Serralves, da década de 70.
São muitos os elementos usados por Matta-Clark para “comunicar a experiência do um edifício e da sua transformação”, observa João Ribas. Segundo o diretor adjunto e curador sénior no Museu de Serralves, os cortes de edifícios e casas “tornavam a arquitetura em escultura e numa experiência”.

Program Six é uma obra que engloba três filmes: Splitting, Bingo/Nights e Substrait (Underground Dailies) da Coleção da Fundação de Serralves – Museu de Arte Contemporânea
A exposição, que vai ocupar as salas pequenas na ala esquerda do museu, foi criada em redor de verbos construtivos (escrever, desenhar) e destrutivos (cortar, dividir), para mostrar através dos principais projetos de Matta-Clark a relação entre a arte e a arquitetura. “Ele trabalhou a realidade entre as duas disciplinas”, resume João Ribas. “Há todo um processo de estudo, quase um corte, uma geometria muito complexa que se percebe no desenho”, acrescenta.
Aos mais importantes cortes de edifícios, executados entre 1973 e 1978, onde surgem os golpes cirúrgicos nos buracos no chão de construções abandonadas, incluindo A W-Hole House, Conical Intersect, Day’s End e Splitting (1974), a exposição aborda o interesse do artista pela culinária, os processos metabólicos e os jogos de linguagem. E reún, ainda, algumas obras de artistas como Ed Rusha, Dan Graham e Alvin Baltrop, que criam contexto para a intervenção de Matta-Clark. Depois da temporada em Serralves, a 13 de outubro, as obras viajam até à Cultugest, em Lisboa, onde vão ficar até 7 de janeiro de 2018.
Museu de Arte Contemporânea de Serralves > R. Dom João de Castro, 210, Porto > T. 808 200 543 > 5 mai-3 set, seg, qua-sex 10h-19h (entre jul-set abre à ter), sáb-dom-fer 10h-20h, €10