No início, diz-se, era o fado que animava o dia a-dia desta moça “solteira de amores, casada com desamores, natural de Lisboa e habitante de um rés do chão algures nos subúrbios da capital”. Assim era apresentada, há uma década, a Deolinda, a personagem imaginária cuja vida era cantada (e contada) pelo grupo com o mesmo nome, composto por Ana Bacalhau, Luís José Martins, Pedro da Silva Martins e José Pedro Leitão.
Logo com o primeiro disco, Canção ao Lado, lançado em 2008 e que incluía temas como Fado Toninho, Fon-Fon-Fon ou Movimento Perpétuo Associativo, viram-se transformados num dos maiores fenómenos de então da música portuguesa. Um estatuto ainda mais alicerçado com o disco seguinte, Dois Selos e um Carimbo (2010), que entrou diretamente para o primeiro lugar do top de vendas nacional.
A Deolinda era agora uma rapariga segura de si, que saíra do prédio onde sempre morara para ir dar umas voltas à grande cidade. Na sequência desse disco, a banda atuaria pela primeira vez nos coliseus em janeiro de 2011, com quatro datas em Lisboa e no Porto, onde estreou ao vivo a canção Parva que Sou, nos meses seguintes elevada a um dos hinos da contestação à austeridade imposta pela famigerada troika. Dois anos depois, em 2013, e quando os dois primeiros álbuns ainda rendiam múltiplas platinas, é editado Mundo Pequenino, que conta com produção do britânico Jerry Boys e marca de vez a descolagem do grupo da sonoridade mais “fadista” dos primeiros registos.
Era finalmente tempo da Deolinda ir lá fora, conhecer o mundo – e o mundo também gostou dela, como ficou bem claro na crítica do jornal britânico The Times a um concerto em Londres, considera-os “uma das grandes bandas da Europa”. Entretanto, passaram-se dez anos e a menina suburbana de outrora surge agora como uma mulher sofisticada, acompanhada de gente como Manel Cruz (Ornatos Violeta) ou DJ Riot (Buraka Som Sistema), dois dos convidados presentes em Outras Histórias, o disco de 2016 que os traz de novo aos coliseus, para encerrar as celebrações de uma década de carreira, mas com a certeza que a Deolinda ainda tem muito para viver e para contar…
Em paralelo com os concertos, os Deolinda vão também reeditar o último Outras Histórias em formato de duplo CD, que inclui um segundo disco com temas ao vivo.
Coliseu dos Recreios > R. das Portas de Santo Antão, 96, Lisboa > T. 21 324 0580 > 28 jan, sáb 21h30 > €15 a €45
Coliseu do Porto > R. de Passos Manuel, 137, Porto > T. 22 339 4940 > 4 fev, sáb 21h30 > €15 a €45